Nota da Comissão Política do Comité Central do PCP
11 de Março de 1975
1. Uma
vez mais, no dia 11 de Março de 1975, a reacção tentou um golpe, conseguindo
desta vez lançar um ataque de forças armadas aéreas e terrestres contra uma
grande unidade militar, o Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1, além de outras
acções militares de menor envergadura.
A tentativa
de golpe falhou graças à pronta e decisiva acção do Movimento das Forças
Armadas e à gigantesca mobilização popular que, em poucas horas, de norte a sul
do País paralisou quaisquer iniciativas fascistas e deu poderoso apoio às
Forças Armadas.
Trata-se de
mais uma grande vitória do Povo português sobre aqueles que querem liquidar as
liberdades e fazer regressar Portugal ao passado fascista. As grandes
manifestações populares que hoje mesmo tiveram lugar por toda a parte
testemunham a consciência que tem o Povo português de que, com esta nova
derrota da reacção, se podem dar novos passos em frente para a construção de um
Portugal democrático.
2. Não há ainda
informações bastantes que permitam fazer uma ideia exacta do âmbito da
conspiração e de todos os elementos conluiados. Uma coisa é certa: esta nova
tentativa de golpe contra-revolucionário deve-se, em parte, à insuficiência do
aparelho de segurança e à excessiva complacência com que, desde o 25 de Abril,
têm sido tratados os conspiradores.
Tal
complacência não pode, desta vez, repetir-se. O Povo português pretende
construir a democracia, sem a incerteza e a intranquilidade que resultam da
impunidade das actividades contra-revolucionárias.
É necessário
que desta vez sejam apuradas responsabilidades e os conspiradores sejam
severamente punidos.
3. Muitas
lições haverá a tirar dos acontecimentos, tanto do dia de hoje como das últimas
semanas. O PCP preveniu e insistiu em que a campanha anticomunista, o acréscimo
da sabotagem económica, a vaga de calúnias, violências e provocações, os golpes
de mão em escolas, sindicatos e autarquias, a agudização artificial de conflitos
sociais, a tentativa de paralisar pela greve sectores importantes da vida
económica, se inseriam num processo de deterioração da situação social e
política, preparando terreno para um golpe reaccionário. Os factos aí estão
para comprovar a razão da advertência.
O
prosseguimento destes factores da deterioração da situação só podem diminuir
gravemente a vitória sobre a reacção como podem criar no imediato novas
dificuldades ao processo democrático.
O PCP
condena firmemente certas violências e destruições anárquicas que, hoje, 11 de
Março, praticadas à sombra da luta contra a reacção, só à reacção podem servir.
O PCP
pronuncia-se firmemente pelo respeito da ordem democrática e pela adopção de
firmes medidas contra aqueles que, desrespeitando-a, põem em perigo a própria
democracia.
4. A
contra-revolução tem encontrado terreno particularmente favorável para o
próprio desenvolvimento em certas contradições, hesitações e debilidades na
política do Governo e no funcionamento de departamentos aos quais cabe a sua
aplicação.
Para a
construção de um Portugal democrático é indispensável o apoio firme e dedicado
do Povo português à situação democrática e o seu trabalho entusiástico e
criador. Isto só pode ser alcançado desde que haja uma resposta aos grandes
problemas que tocam as massas populares e que o Governo e a Administração, pela
sua composição e capacidade operativa, estejam em condições de pôr em prática a
sua própria política.
A derrota da
reacção no 11 de Março, para que dela saia verdadeiramente reforçada a situação
democrática, exige que se dê um decisivo impulso progressista à política
portuguesa.
Os factos
impõem, no imediato: 1) a responsabilização e o castigo exemplar dos
conspiradores da tentativa do golpe do 11 de Março; 2) um mais profundo saneamento
em todo o aparelho do Estado, civil e militar; 3) a reorganização das forças
militarizadas; 4) um decisivo impulso à política antimonopolista e
antilatifundista; 5) medidas imediatas para contenção dos preços e para
actualização de salários.
A reacção
não se vence apenas com medidas de contenção, mas também com medidas económicas
e sociais.
5. O dia 11 de
Março evidenciou uma vez mais que o principal inimigo dos portugueses é a
reacção.
Para o
sucesso na luta contra a reacção e pela construção de um Portugal democrático,
é indispensável o isolamento de actuações divisionistas e desagregadoras e o
reforço da comunidade das forças populares em todos os sectores, da unidade dos
trabalhadores, da unidade das forças democráticas, assim como o reforço da
aliança do movimento popular com o Movimento das Forças Armadas.
Pelas lições
que o 11 de Março comporta, o momento é particularmente favorável ao reforço
dessa unidade e dessa aliança.
O PCP tudo
fará para que este objectivo seja alcançado.
6. A tentativa
de golpe do 11 de Março foi derrotada. Mas não é de crer que a conspiração
abrangesse apenas os responsáveis já conhecidos. Alguma coisa falhou no plano,
e isso significa que houve conjurados que, por qualquer razão, não entraram em
acção.
A reacção tem
ainda força e possibilidades. É necessário manter bem viva e actuante a
vigilância popular, ao lado do Movimento das Forças Armadas, para impedir
qualquer surpresa.
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