ANÍBAL CÂNDIDO DE VASCONCELOS (1887
- 1974)
A intervenção política de Aníbal
Cândido de Vasconcelos prolongou-se por mais de 30 anos, entre, pelo menos 1918
e 1949, data da sua última prisão. Esteve envolvido na luta contra o Sidonismo,
foi preso várias vezes durante a 1.ª República (1918, 1922, 1923), militou no
Partido Comunista Português nos primórdios da sua fundação, insurgiu-se contra
a Ditadura Militar e o Estado Novo e, por isso, voltou a conhecer a prisão
(1929, 1930, 1937, 1939, 1949).
Filho de Adelaide Glória Mendonça
Furtado Meneses Pinto [de Vasconcelos] e de Júlio Emílio da Rocha Vasconcelos,
Aníbal Cândido de Vasconcelos nasceu em 6 de Janeiro de 1887, em Leça de
Palmeira, Porto.
Em 1918, durante os meses de Julho e
Agosto, foi preso pela Polícia Preventiva por três vezes, «por distribuir
manifestos contra o Governo» e «conspirar contra o Governo», sendo apontado
como um «bolchevista ferrenho»: «faz propaganda bolchevista na Brasileira do
Rossio» e reunia-se «com vários socialistas na casa de penhores Santos &
C.ª, entre eles Augusto Dias da Silva, ex-Ministro do Trabalho». Também se
reuniria frequentemente «com elementos suspeitos, fazendo propaganda
bolchevista» [ANTT, Cadastro Político 207].
Na sequência dessas prisões, foi
violentamente torturado, tendo Cunha Leal, na Sessão da Câmara de Deputados de
13 de Dezembro de 1918, véspera do assassinato de Sidónio Pais, denunciado o
que se passava com alguns presos políticos, referindo-se, entre outros, ao seu
caso específico: «O preso Aníbal de Vasconcelos, actualmente em Elvas, veio
para o Governo Civil de Lisboa, e foi espancado a cavalo marinho, açulado
contra ele um cão e deram-lhe uma coronhada que acertou no cão. Por último,
partiram-lhe duas costelas» [Diário da Câmara dos Deputados, Sessão N.º 7, 13
de Dezembro de 1918].
Em Dezembro de 1920, integrou, com
Alberto das Neves, António Peixe, Araújo Pereira, Campos Lima, Carlos Araújo,
Carlos Rates, Eduardo Metzner, João de Castro, Joaquim Cardoso, José Corvo,
Júlio de Matos, Manuel Ribeiro, Nascimento Cunha, Raul Baptista, Sebastião Eugénio,
Sobral Campos e Vítor Martins, a Comissão Organizadora dos Trabalhos para a
Constituição do Partido Comunista [José Pacheco Pereira, "Contribuição
para a história do Partido Comunista Português na I República (1921-26)",
Análise Social, vol. XVII (67-68), 1981-3.º-4.º, 695-713].
Em 23 de Junho de 1921,
acrescentou-se no seu Cadastro Político que «é um velho republicano, tendo
sofrido bastante durante o período dezembrista», anotando-se que, «a seguir ao
triunfo de Monsanto, filiou-se no partido socialista e fez parte dum complot
contra o Dr. José Domingos dos Santos, ex-Ministro do Trabalho» [ANTT, Cadastro
Político 207].
Referenciado como vendedor ambulante
de tabaco, voltou a ser preso em 1 de Agosto de 1922, «por ter abusado de
liberdade de imprensa», e em 3 de Julho de 1923, «por ordem superior».
Segundo Pacheco Pereira, Aníbal de
Vasconcelos terá feito parte, entre Março e Maio de 1923, do Comité Central do
Partido Comunista, com António Monteiro, Caetano de Sousa, J. Pires Barreira e
José de Sousa.
Na sequência da luta contra a
Ditadura Militar, Aníbal de Vasconcelos tomou parte no movimento revolucionário
de 20 de Julho de 1928, sendo preso em 4 de Abril de 1929 e libertado em 28 de
Maio.
No ano seguinte, o informador
Conceição referia, em 8 de Março, que Aníbal Cândido de Vasconcelos fora visto
com aqueles que se «fardaram de oficiais para raptarem o Ex.m° Ministro das
Finanças, Dr. Oliveira Salazar, chegando a ir até à entrada da Avenida Duque de
Loulé» [Cadastro Político 207]. Por «estar comprometido com Fidelino da Costa
no projecto do rapto do Senhor Ministro das Finanças», foi preso em 29 de Março
de 1930 e solto em 18 de Abril [Processo 4573].
Em Junho do mesmo ano, o informador
Bom referia que Aníbal de Vasconcelos andava vendendo o livro «Dez dias que
abalaram o Mundo».
Depois de uns anos de interregno,
voltou a ser detido em 22 de Janeiro de 1937, desta vez pela Secção Política e
Social da PVDE. Sem profissão, a residir na Rua Carlos Mardel - 111, passou
pelos calabouços da 1.ª Esquadra e, no dia seguinte, seguiu para Caxias, sendo
libertado em 24 de Março do mesmo ano [Registo Geral de Presos 5773; Processo
74/937].
Em 25 de Abril de 1939, quando era
cobrador e vivia na Rua Dr. Oliveira Ramos, 11, 2.° esquerdo, foi preso «por
andar a propalar boatos tendenciosos, entre eles o de que as tropas italianas
que em Espanha combateram ao lado de Franco, estavam concentradas junto da
nossa fronteira» [Registo Geral de Presos 5773]. Por ser «conspirador de todos
os tempos com largo cadastro», foi deportado para Angra do Heroísmo, onde
desembarcou em 23 de Maio. Regressou em 23 de Dezembro e foi libertado no mesmo
dia [Processo 480/939].
O último contacto com a polícia
política deu-se dez anos depois, em 3 de Setembro de 1949. Permaneceu no Aljube
até 11 de Novembro, quando regressou à Cadeia Penitenciária de Lisboa [Processo
1115/49]. Era, então, empregado forense e residia na Rua Heróis de Quionga, 52
- 2.° esquerdo.
Aníbal Cândido de Vasconcelos terá
falecido em 1974, em Lisboa.
Fontes:
ANTT, Cadastro Político 207 [Aníbal
de Vasconcelos ou Aníbal Cândido de Vasconcelos / PT-TT-PIDE-E-001-CX06_m0053,
m0053a].
ANTT, Registo Geral de Presos 5773
[Aníbal Cândido de Vasconcelos / PT-TT-PIDE-E-010-29-5773].
José Pacheco Pereira,
"Contribuição para a história do Partido Comunista Português na I
República (1921-26)", Análise Social, vol. XVII (67-68), 1981-3.º-4.º,
695-713.
[João Esteves - Blogue Silêncios e Memórias / https://silenciosememorias.blogspot.com/.../2316-anibal...].