RUBEN DE CARVALHO
Militante do Partido Comunista Português, homem de grande cultura, destacou-se
no jornalismo, na imprensa e na rádio. Deixou à sociedade portuguesa um
contributo de grande relevo no conhecimento da música, na sua dimensão artística,
cultural e social, no plano nacional e internacional, desde as suas raízes
populares à sua dimensão erudita. A sua cultura musical e cinéfila, o seu gosto
pela banda desenhada e o fascínio pela cultura popular norte-americana,
recusando visões dogmáticas, deram-lhe uma imagem de comunista que se abria à
contemporaneidade e à diferença, enriquecendo o património intelectual do PCP.
Funcionário do Partido Comunista entre 1974 e 1997, Ruben de Carvalho foi Chefe
de Redacção do Avante!, órgão central do PCP, entre 1974 e 1995. Como membro do
Executivo da Comissão Nacional da Festa do Avante! desde a 1.ª edição, em 1976,
assumiu uma intervenção destacada na sua programação cultural, em particular na
concepção e organização dos espectáculos musicais. A Festa do Avante deveu-se
em grande parte, nos primeiros anos, à sua enorme criatividade, aos
conhecimentos musicais que detinha e a um raro dinamismo.
Esteve preso em 1965, em Caxias.
Orgulhava-se de ter grandes cumplicidades com pessoas de todos os sectores
ideológicos.
1 Ruben Luís Tristão de Carvalho e Silva nasceu em Lisboa, a 21 de Julho de
1944, filho do médico Ruben Luís de Carvalho e Silva e da bibliotecária Dinorah
Honorina Dantas Soares Tristão de Carvalho e Silva. Frequentou o ensino
secundário no Liceu Camões e com 14 anos, por ocasião das eleições de Humberto
Delgado, juntou-se aos jovens activistas da Oposição. Em 1963 entra para o
jornal O Século como repórter, mas mantém as actividades a que se entregara na
Pró-Associação dos Liceus. Em 1965, foi acusado de "actividades
subversivas", preso e enviado para o Forte de Caxias, onde ficou entre 23
de Outubro de 1965 e 24 de Março de 1966.
Afirma-se desde cedo como jornalista: em 1967 já é Chefe de redacção da Vida
Mundial e em 1971 é editor-paginador do jornal O Século.
Entretanto, cumpre o serviço militar em diferentes zonas do país e, em 1969,
parte para a Guerra colonial em Angola, onde fica cerca de um ano. Em 1971
entra para o PCP.
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2. Depois do 25 de Abril, pertencia à direcção nacional do MDP/CDE (Movimento
Democrático Português – Comissão Democrática Eleitoral) quando foi chefe de
gabinete do ministro sem pasta Prof. Francisco Pereira de Moura (MDP/CDE), no I
Governo Provisório. A partir da 1ª edição legal do jornal Avante (1974), desempenha
as funções de chefe de redacção (até 1995) e entra para funcionário do PCP.
Integrou o Comité Central do PCP, desde 1979 até à data da morte. Fez parte da
organização da Festa do Avante, desde o seu início, em 1976.
Outras funções desempenhadas:
Foi deputado da CDU na Assembleia da República, eleito pelo círculo de Setúbal
nas eleições de 1995; vereador da Câmara Municipal de Setúbal, eleito pela CDU
em Dezembro de 1997; e vereador na Câmara Municipal de Lisboa, eleito pela CDU,
entre 2005 e 2013, sendo então responsável na CML pelo Roteiro do Antifascismo.
Foi membro da Comissão Executiva das comemorações do 25.º Aniversário do 25 de
Abril, nomeado pelo Presidente da República Mário Soares.
Foi membro da Comissão Executiva das Festas de Lisboa e da Comissão Municipal
de Preparação de LISBOA 94 - Capital Europeia da Cultura; Comissário para as
áreas de Música Popular e Edições de LISBOA 94; e Director artístico (nomeado
pela Câmara Municipal de Lisboa) do Festival das Músicas e Portos (1999). Foi membro
do Conselho de Opinião da RTP (2002).
Foi ainda membro do Conselho Consultivo do Centro Cultural de Belém.
Faleceu em 11 de Junho de 2019.
O Partido Comunista Português, na nota de pesar emitida por ocasião da sua
morte, lamentou a sua morte, referindo-se ao ex-dirigente como um “intelectual
comunista” que “assumiu uma intervenção destacada na actividade do Partido,
tendo desempenhado importantes tarefas, cargos e responsabilidades”; com uma
“vida de intervenção e de luta na resistência antifascista, no movimento
associativo estudantil; e que “abraçou com intensidade a Revolução de Abril e
defendeu os seus valores e conquistas”.
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3. Colaborações em jornais, publicações e rádios
Colaborou em numerosas publicações: Seara Nova, Notícias da Amadora, O Diário,
Diário de Lisboa, Século Ilustrado, Contraste, JL, O Militante, Politika,
História, Vida Mundial (nova série), A Capital, Expresso. Foi cronista no
Diário de Notícias e comentador da SIC Notícias.
Dirigiu, entre 1986 e 1990, a rádio local Telefonia de Lisboa, produzindo e
realizando diversos programas. A partir de 2009 produziu o programa Crónicas da
Idade Mídia e participou, com Jaime Nogueira Pinto, no programa Radicais Livres
na Antena 1.
Ruben de Carvalho produziu diversos discos e espectáculos, nomeadamente Uma
certa maneira de cantar, A Internacional, Pete Seeger em Lisboa, 25 Canções de
Abril, Lisboa Cidade Abril, Carvalhesa, Grândolas.
Na obra publicada encontram-se os títulos: «Dossier Carlucci-CIA», «Festas de
Lisboa», «As Músicas do Fado», «Seis Canções da Guerra de Espanha», «Um Século
de Fado», «Histórias do Fado». O organizou o livro póstumo «As Palavras das
Cantigas» de José Carlos Ary» e prefaciou diversas obras, nomeadamente «Nenhum
Homem é Estrangeiro» de Joseph North.
Fontes:
- ANTT Registo Geral dos Presos, nº 27421
- https://www.rtp.pt/antena1/os-dias-da-radio/ruben-de-carvalho-1944-2019_10802
- http://www.avante.pt/pt/2376/pcp/155320/Ruben-de-Carvalho-militante-comunista-construtor-de-Abril-do-«Avante!»-e-da-Festa.htm
- https://expresso.pt/politica/2019-06-11-Lutar-pelo-emprego-nao-e-menos-romantico-do-que-lutar-pela-liberdade-Ruben-de-Carvalho-1944-2019
Biografia da autoria de Helena Pato
Festa do Avante! 1976
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