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1921-2021

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

MARIA ADELAIDE ABOIM INGLEZ (1932 – 2008)



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MARIA ADELAIDE ABOIM INGLEZ (1932 – 2008)

Dedicou grande parte da sua vida à luta contra o fascismo, pela Democracia e pela Liberdade, e pertenceu a uma família dramaticamente visada pela repressão. Presa por duas vezes, passou cerca de dois anos na Cadeia de Caxias. Desempenhou várias tarefas clandestinas, das quais se destacam o seu papel na ligação entre militantes comunistas presos nas cadeias fascistas e a organização do PCP. Mulher calma e de aparência muito serena, manteve sempre uma enorme firmeza quer perante a PIDE, quer na cadeia.

1.     Maria Adelaide Dias Coelho Aboim Inglez nasceu em Castelo Branco, a 27 de Março de 1932 no seio de uma família de combatentes contra o fascismo. Era filha de Afredo Dias Coelho e de Juliana Augusta Dias Coelho (1); irmã de José Dias Coelho, o escultor comunista assassinado pela PIDE, e foi casada com o dirigente comunista Carlos Hanhemann Saavedra de Aboim Inglez.
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Aderiu ao PCP em 1953 e, pouco tempo depois de ter casado com Carlos Aboim Inglês, o casal aceitou o convite para se juntar às fileiras da organização clandestina do PCP (2).
A primeira prisão da Maria Adelaide ocorreu em Outubro de 1952, durante uma recolha de assinaturas a favor de um tratado de Paz entre as grandes potências, e para a proibição do armamento atómico. Manteve-se em Caxias durante cinco meses, sendo libertada em Março de 1953 sem ir a julgamento.

Em Junho de 1959 é presa pela segunda vez, quando a casa clandestina onde vivia com o marido e a filha, Margarida, foi assaltada pela PIDE. Teve então a presença de espírito de trancar a porta, para conseguir queimar materiais conspirativos e papéis que poderiam provocar outras prisões, enquanto os «pides» davam tiros na fechadura, para a arrombar.

Maria Adelaide Aboim Inglez e a filha, então com 4 anos, foram levadas para a sede da PIDE na António Maria Cardoso e, depois, para o Forte de Caxias. Maria Adelaide exige que a filha seja entregue à avó, Maria Isabel Aboim Inglês (3), o que acontece apenas cerca de uma semana depois da prisão. [A criança ficará a viver com essa avó até 1962]. Durante o tempo de prisão, Maria Adelaide é punida, sucessivas vezes, pelo director da cadeia, por ter recusado obedecer às “disposições regulamentares”, e só em Outubro de 1960 é julgada em Tribunal Plenário. Tendo sido absolvida é libertada,16 meses depois de ter sido encarcerada em Caxias. Porém volta a ser julgada em Janeiro de 1961 (noutro processo e por outro tribunal), sendo então condenada a 18 meses de cadeia, com pena suspensa, mas sai em «liberdade precária».

Antes do 25 de Abril, Maria Adelaide assumiu várias tarefas clandestinas, entre as quais em lutas de solidariedade e pela libertação dos presos políticos, e na ligação da organização dos camaradas presos nas cadeias fascistas com a organização do Partido (no exterior).

Entre 1968 e 1975, por opção da direcção do PCP, reside em Moscovo com Carlos Aboim Inglez, seu companheiro de sempre, e as filhas Margarida e Isabel.

Com o 25 De Abril regressa a Portugal e desempenha funções na sede do PCP (Rua Soeiro Pereira Gomes), na contabilidade central. Alguns anos depois, Maria Adelaide passa a trabalhar na livraria do «Centro de Trabalho Vitória» do Partido Comunista (Lisboa), onde fica até aos seus últimos dias, quando é vitimada por um AVC. Morre a 29 de Fevereiro de 2008.

Notas:

(1) Eram nove irmãos: Alice, Alberto, Fernando, Rui, José, M. Sofia, M. Adelaide, M. Natália e M. Emília. Em 1925, devido à profissão do pai – Escrivão de Direito -, a família vai residir para Coimbra. Em1930, o pai é colocado em Castelo Branco para onde vão residir e em 1932 aí nasce Maria Natália.
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(2) Maria Adelaide e Carlos Aboim Inglez entraram para a clandestinidade no mesmo dia de um outro casal, os seus familiares Margarida Tengarrinha e José Dias Coelho. Carlos Aboim Inglez aderira ao PCP em 1946, tendo passado um período de semi-legalidade até entrar definitivamente na clandestinidade. Assumiu diversas responsabilidades, tendo estado preso nas cadeias fascistas durante dez anos. Foi membro do Comité Central desde 1958.

(3) Maria Isabel Aboim Inglez foi uma das mais notáveis figuras femininas da Resistência ao fascismo. Enfrentou as perseguições e a repressão salazarista com coragem e dignidade cívica, intelectual, moral e política. Fez frente ao fascismo com uma coragem sem vacilações e uma grande firmeza de caracter. Salazar usou contra Maria Isabel Aboim lnglez duas violentas formas de repressão: prendendo-a, mas também retirando-lhe todos os meios de ganhar a vida, quando já era viúva e mãe de cinco filhos. Essa perseguição constante e sem tréguas para a fazer vergar e desistir das suas convicções, não a envolveu só a ela, mas aos próprios filhos (ver biografia em Antifascistas da Resistência).

Fontes:
«Memórias de Uma Falsificadora. A luta na Clandestinidade pela Liberdade», Margarrida Tengarrinha. Ed. Colibri, 2018.
ANTT, Registo Geral de Presos nº 20947
ANTT, Registo Geral de Presos, nº 23705
Biografia da autoria de Helena

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