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MARIA ADELAIDE ABOIM INGLEZ (1932 –
2008)
Dedicou grande parte da sua vida à
luta contra o fascismo, pela Democracia e pela Liberdade, e pertenceu a uma
família dramaticamente visada pela repressão. Presa por duas vezes, passou
cerca de dois anos na Cadeia de Caxias. Desempenhou várias tarefas
clandestinas, das quais se destacam o seu papel na ligação entre militantes
comunistas presos nas cadeias fascistas e a organização do PCP. Mulher calma e
de aparência muito serena, manteve sempre uma enorme firmeza quer perante a
PIDE, quer na cadeia.
1.
Maria Adelaide Dias Coelho Aboim
Inglez nasceu em Castelo Branco, a 27 de Março de 1932 no seio de uma família
de combatentes contra o fascismo. Era filha de Afredo Dias Coelho e de Juliana
Augusta Dias Coelho (1); irmã de José Dias Coelho, o escultor comunista
assassinado pela PIDE, e foi casada com o dirigente comunista Carlos Hanhemann
Saavedra de Aboim Inglez.
2.
Aderiu ao PCP em 1953 e, pouco tempo
depois de ter casado com Carlos Aboim Inglês, o casal aceitou o convite para se
juntar às fileiras da organização clandestina do PCP (2).
A primeira prisão da Maria Adelaide
ocorreu em Outubro de 1952, durante uma recolha de assinaturas a favor de um
tratado de Paz entre as grandes potências, e para a proibição do armamento
atómico. Manteve-se em Caxias durante cinco meses, sendo libertada em Março de
1953 sem ir a julgamento.
Em Junho de 1959 é presa pela
segunda vez, quando a casa clandestina onde vivia com o marido e a filha,
Margarida, foi assaltada pela PIDE. Teve então a presença de espírito de
trancar a porta, para conseguir queimar materiais conspirativos e papéis que
poderiam provocar outras prisões, enquanto os «pides» davam tiros na fechadura,
para a arrombar.
Maria Adelaide Aboim Inglez e a
filha, então com 4 anos, foram levadas para a sede da PIDE na António Maria
Cardoso e, depois, para o Forte de Caxias. Maria Adelaide exige que a filha
seja entregue à avó, Maria Isabel Aboim Inglês (3), o que acontece apenas cerca
de uma semana depois da prisão. [A criança ficará a viver com essa avó até
1962]. Durante o tempo de prisão, Maria Adelaide é punida, sucessivas vezes,
pelo director da cadeia, por ter recusado obedecer às “disposições
regulamentares”, e só em Outubro de 1960 é julgada em Tribunal Plenário. Tendo
sido absolvida é libertada,16 meses depois de ter sido encarcerada em Caxias.
Porém volta a ser julgada em Janeiro de 1961 (noutro processo e por outro
tribunal), sendo então condenada a 18 meses de cadeia, com pena suspensa, mas
sai em «liberdade precária».
Antes do 25 de Abril, Maria Adelaide
assumiu várias tarefas clandestinas, entre as quais em lutas de solidariedade e
pela libertação dos presos políticos, e na ligação da organização dos camaradas
presos nas cadeias fascistas com a organização do Partido (no exterior).
Entre 1968 e 1975, por opção da
direcção do PCP, reside em Moscovo com Carlos Aboim Inglez, seu companheiro de
sempre, e as filhas Margarida e Isabel.
Com o 25 De Abril regressa a
Portugal e desempenha funções na sede do PCP (Rua Soeiro Pereira Gomes), na
contabilidade central. Alguns anos depois, Maria Adelaide passa a trabalhar na
livraria do «Centro de Trabalho Vitória» do Partido Comunista (Lisboa), onde
fica até aos seus últimos dias, quando é vitimada por um AVC. Morre a 29 de
Fevereiro de 2008.
Notas:
(1) Eram nove irmãos: Alice,
Alberto, Fernando, Rui, José, M. Sofia, M. Adelaide, M. Natália e M. Emília. Em
1925, devido à profissão do pai – Escrivão de Direito -, a família vai residir
para Coimbra. Em1930, o pai é colocado em Castelo Branco para onde vão residir
e em 1932 aí nasce Maria Natália.
.
(2) Maria Adelaide e Carlos Aboim
Inglez entraram para a clandestinidade no mesmo dia de um outro casal, os seus
familiares Margarida Tengarrinha e José Dias Coelho. Carlos Aboim Inglez
aderira ao PCP em 1946, tendo passado um período de semi-legalidade até entrar
definitivamente na clandestinidade. Assumiu diversas responsabilidades, tendo
estado preso nas cadeias fascistas durante dez anos. Foi membro do Comité
Central desde 1958.
(3) Maria Isabel Aboim Inglez foi
uma das mais notáveis figuras femininas da Resistência ao fascismo. Enfrentou
as perseguições e a repressão salazarista com coragem e dignidade cívica,
intelectual, moral e política. Fez frente ao fascismo com uma coragem sem
vacilações e uma grande firmeza de caracter. Salazar usou contra Maria Isabel
Aboim lnglez duas violentas formas de repressão: prendendo-a, mas também
retirando-lhe todos os meios de ganhar a vida, quando já era viúva e mãe de
cinco filhos. Essa perseguição constante e sem tréguas para a fazer vergar e
desistir das suas convicções, não a envolveu só a ela, mas aos próprios filhos
(ver biografia em Antifascistas da Resistência).
Fontes:
«Memórias de Uma Falsificadora. A
luta na Clandestinidade pela Liberdade», Margarrida Tengarrinha. Ed. Colibri, 2018.
ANTT, Registo Geral de Presos nº
20947
ANTT, Registo Geral de Presos, nº
23705
Biografia da autoria de Helena
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