100 anos de militância a caminho do futuro

1921-2021

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

JOSÉ ADELINO DOS SANTOS (1912-1958)

 

JOSÉ ADELINO DOS SANTOS (1912-1958)

Trabalhador muito respeitado e influente na região de Montemor -o - Novo, militante do Partido Comunista desde o início da década de 40, destacou-se na sua organização e nas ações reivindicativas pela subida de salários e melhorias das condições de vida. Foi assassinado a tiro pela GNR e PIDE.

Em 23 de Junho de 1958, na sequência da suspensão do trabalho e de uma manifestação de mais de 200 trabalhadores rurais frente à Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, em protesto contra a fraude nas eleições presidenciais e reivindicando aumentos salariais, José Adelino dos Santos foi assassinado com um tiro pela GNR e PIDE, entretanto chamadas pelo edil. Tinha 46 anos e, não por acaso, José Saramago dedicou Levantados do Chão à memória de Germano Vidigal e de José Adelino dos Santos.

José Adelino dos Santos era filho de Mariana Augusta e de Adelino dos Santos, um casal de trabalhadores rurais, e nasceu em 25 de Outubro de 1912, na freguesia de Santiago do Escoural, concelho de Montemor-o-Novo e casou com Felicidade, tendo tido dois filhos (Adelino e Fortunata).

Militante do Partido Comunista desde o início da década de 40, destacou-se na sua organização em Montemor-o-Novo, envolvendo-se na divulgação da imprensa clandestina e na organização, com outros camaradas, nas ações reivindicativas pela subida de salários e melhorias das condições de vida. Na década de 50, colaborou na comemoração anual da implantação da República, iniciativa que começava com uma romagem às campas dos republicanos falecidos e terminava com um jantar, onde se dançava e cantava as canções de Fernando Lopes Graça; e promoveu eventos que funcionavam como recolha de fundos para o Partido Comunista, para a poiar famílias dos presos políticos e para auxiliar familiares e amigos carenciados e doentes.

Era, por isso, um trabalhador muito respeitado e influente na região, tendo sido preso pela PIDE por duas vezes: em 1945, permanecendo três meses no Aljube e em Caxias, e em 1947. Desta vez, esteve encarcerado 29 meses, tendo passado pelo Aljube, Caxias e Peniche.

A jornada de luta de 23 de Junho de 1958 fora cuidadosamente preparada junto dos trabalhadores rurais e dos operários da região, embora sob atenta vigilância da PIDE e, quando aqueles pediram para ser recibos pelo Presidente da Câmara, a GNR, reforçada por agentes de Évora e de Vendas Novas, e a polícia política intervieram, expulsaram os manifestantes do edifício. Foram, então, disparados vários tiros da varanda do edifício municipal e um deles atingiu mortalmente José Adelino dos Santos, tendo António Piteira tido a coragem de se aproximar do corpo ensanguentado.

Foram presos mais de duas centenas de homens, muitos deles levados pela PIDE para Lisboa, a vila esteve cercada e foi imposto o recolher obrigatório.

Sem informar a mãe, o irmão (Manuel Luís dos Santos) e a irmã (Joaquina de Jesus), o corpo de José Adelino dos Santos foi enviado para Lisboa, para o Instituto de Medicina Legal. O seu funeral, vigiado pela PIDE e por centenas de homens da GNR, contou com mais de duas mil pessoas e constituiu mais um acto de resistência contra a ditadura.

Os filhos foram activistas do MUD Juvenil e tiveram, também, militância comunista: o rapaz participou em ações de distribuição de propaganda clandestina e a filha, quando tinha 14 anos, chegou a ser indicada para representar a Juventude num encontro mundial a decorrer em Varsóvia, não podendo ir por lhe terem recusado o passaporte.

Cinquenta anos depois do assassinato, o núcleo de Montemor-o-Novo da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, com o apoio da Câmara Municipal, inaugurou, em 28 de Junho de 1986, uma escultura dedicada à memória de José Adelino dos Santos.

Nota
Estes dados biográficos baseiam-se no escrito de Teresa Fonseca, “José Adelino dos Santos e a resistência à ditadura em Montemor-o-Novo”, publicado em Almansor | Revista de Cultura, N.º 7, 2008, pp. 217-227. Algumas das mulheres que prestaram depoimento para o livro A memória das mulheres. Montemor-o-Novo em tempo de ditadura, coordenado por Teresa Fonseca e editado em 2007, também se referem ao sucedido com José Adelino dos Santos.

Sem comentários:

Enviar um comentário