JOSÉ ADELINO DOS SANTOS (1912-1958)
Trabalhador muito respeitado e influente na região de
Montemor -o - Novo, militante do Partido Comunista desde o início da década de
40, destacou-se na sua organização e nas ações reivindicativas pela subida de
salários e melhorias das condições de vida. Foi assassinado a tiro pela GNR e
PIDE.
Em 23 de Junho de 1958, na sequência da suspensão do
trabalho e de uma manifestação de mais de 200 trabalhadores rurais frente à
Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, em protesto contra a fraude nas eleições
presidenciais e reivindicando aumentos salariais, José Adelino dos Santos foi
assassinado com um tiro pela GNR e PIDE, entretanto chamadas pelo edil. Tinha
46 anos e, não por acaso, José Saramago dedicou Levantados do Chão à memória de
Germano Vidigal e de José Adelino dos Santos.
José Adelino dos Santos era filho de Mariana Augusta e de
Adelino dos Santos, um casal de trabalhadores rurais, e nasceu em 25 de Outubro
de 1912, na freguesia de Santiago do Escoural, concelho de Montemor-o-Novo e
casou com Felicidade, tendo tido dois filhos (Adelino e Fortunata).
Militante do Partido Comunista desde o início da década de
40, destacou-se na sua organização em Montemor-o-Novo, envolvendo-se na divulgação
da imprensa clandestina e na organização, com outros camaradas, nas ações
reivindicativas pela subida de salários e melhorias das condições de vida. Na
década de 50, colaborou na comemoração anual da implantação da República,
iniciativa que começava com uma romagem às campas dos republicanos falecidos e
terminava com um jantar, onde se dançava e cantava as canções de Fernando Lopes
Graça; e promoveu eventos que funcionavam como recolha de fundos para o Partido
Comunista, para a poiar famílias dos presos políticos e para auxiliar
familiares e amigos carenciados e doentes.
Era, por isso, um trabalhador muito respeitado e influente
na região, tendo sido preso pela PIDE por duas vezes: em 1945, permanecendo
três meses no Aljube e em Caxias, e em 1947. Desta vez, esteve encarcerado 29
meses, tendo passado pelo Aljube, Caxias e Peniche.
A jornada de luta de 23 de Junho de 1958 fora
cuidadosamente preparada junto dos trabalhadores rurais e dos operários da
região, embora sob atenta vigilância da PIDE e, quando aqueles pediram para ser
recibos pelo Presidente da Câmara, a GNR, reforçada por agentes de Évora e de
Vendas Novas, e a polícia política intervieram, expulsaram os manifestantes do
edifício. Foram, então, disparados vários tiros da varanda do edifício
municipal e um deles atingiu mortalmente José Adelino dos Santos, tendo António
Piteira tido a coragem de se aproximar do corpo ensanguentado.
Foram presos mais de duas centenas de homens, muitos deles
levados pela PIDE para Lisboa, a vila esteve cercada e foi imposto o recolher
obrigatório.
Sem informar a mãe, o irmão (Manuel Luís dos Santos) e a
irmã (Joaquina de Jesus), o corpo de José Adelino dos Santos foi enviado para
Lisboa, para o Instituto de Medicina Legal. O seu funeral, vigiado pela PIDE e
por centenas de homens da GNR, contou com mais de duas mil pessoas e constituiu
mais um acto de resistência contra a ditadura.
Os filhos foram activistas do MUD Juvenil e tiveram,
também, militância comunista: o rapaz participou em ações de distribuição de
propaganda clandestina e a filha, quando tinha 14 anos, chegou a ser indicada
para representar a Juventude num encontro mundial a decorrer em Varsóvia, não
podendo ir por lhe terem recusado o passaporte.
Cinquenta anos depois do assassinato, o núcleo de
Montemor-o-Novo da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, com o apoio
da Câmara Municipal, inaugurou, em 28 de Junho de 1986, uma escultura dedicada
à memória de José Adelino dos Santos.
Nota
Estes dados biográficos baseiam-se no escrito de Teresa
Fonseca, “José Adelino dos Santos e a resistência à ditadura em
Montemor-o-Novo”, publicado em Almansor | Revista de Cultura, N.º 7, 2008, pp.
217-227. Algumas das mulheres que prestaram depoimento para o livro A memória
das mulheres. Montemor-o-Novo em tempo de ditadura, coordenado por Teresa
Fonseca e editado em 2007, também se referem ao sucedido com José Adelino dos
Santos.
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