100 anos de militância a caminho do futuro

1921-2021

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

ÁLVARO PATO (N. 1950 )

 

 

ÁLVARO PATO (N. 1950 )

Falar de Álvaro Pato é reviver décadas de luta antifascista, marcadas pela dor, sofrimento, resistência e coerência política ímpar, mas serve, também, para constatar a impunidade, após 1974, dos que prenderam, torturaram e mataram durante 48 anos.

Filho de Antónia Joaquina Monteiro e de Octávio Floriano Rodrigues Pato [01/04/1925 - 19/02/1999], ambos militantes do Partido Comunista, Álvaro Monteiro Rodrigues Pato nasceu em Março de 1950, quando os pais estavam na clandestinidade.

Quando nasceu, o tio, Carlos Pato [Carlos Alberto Rodrigues Pato (21/12/1920 - 26/06/1950)], igualmente militante do Partido Comunista, estava preso em Caxias e não tardaria a morrer devido às violentas torturas sofridas às mãos da PIDE, deixando uma filha e um filho muito pequenos, respectivamente com 20 e 7 meses.

Como os riscos eram muitos e, com apenas dezasseis meses, Álvaro Pato passou a viver com os avós paternos [Maria da Conceição Rodrigues Pato (n. 1900) e João Floriano Baptista Pato (26/06/1895 - 14/12/1983)], em Vila Franca de Xira, sendo que a avó foi a mulher que, entre 1949 e 1974, mais anos passou a caminho das prisões fascistas para visitar os filhos, a nora ou o neto.

Aos nove anos, Álvaro reencontrou-se, fugazmente, com o pai num encontro clandestino preparado na Nazaré; voltou a ver a mãe somente aos treze, quando ela lhe apareceu junto à casa dos avós paternos.

Em 1961, com a prisão do pai e da companheira, Albina Fernandes [05/01/1929 - 02/10/1970], Álvaro Pato, um rapazito de 11 anos, iniciou as suas caminhadas semanais a Peniche e a Caxias para os ver, acompanhando o tio Abel [Abel Rodrigues Batista Pato, chegou a estar preso no Aljube em finais de 1953, inícios de 1954], a avó Maria, o avô João e os (novos) irmãos Isabel e Rui. Visitas que se prolongaram por muitos anos, nove, até à libertação do pai, chegando, nas férias, a estar acampado 15 dias no parque de campismo de Peniche, para o poder visitar com mais frequência, muito contribuindo para o estreitamento dos laços afectivos (e também políticos) entre os dois.

Entretanto, Álvaro Pato começou a participar na secção cultural da União Desportiva Vila-franquense, onde conheceu, por exemplo, Vítor Dias, e por volta dos dezasseis anos ingressou no Partido Comunista.

Passou pela Escola Machado de Castro e, em 1968, entrou no Instituto Industrial, também em Lisboa, tendo feito parte da direcção da Associação, entretanto encerrada pelas autoridades académicas, o que provocou greves às aulas e a prisão de vários colegas. A viver num quarto em Lisboa, foi avisado pelos avós que a GNR o tinha procurado com um mandado de captura e passou a viver numa semi-clandestinidade, sustentando-se como desenhador através de projectos de construção civil que Álvaro Veiga de Oliveira [25/01/1929 - 24/08/2006] lhe entregava.

Em Outubro de 1970, Albina Fernandes suicidou-se, cabendo a Álvaro Pato dar a notícia ao pai e ao irmão Rui.
Mobilizado para a tropa em 1971, desertou em Abril de 1972 por estar em vias de ser enviado para a Guiné, já que era «politicamente suspeito», informação dada por um alferes, comandante de pelotão. Entrou, então, na clandestinidade, chegando a reencontrar o pai, também na clandestinidade, numa reunião política ocorrida no Porto em Outubro de 1972. Passou a ser António Gomes da Silva, segundo o forjado documento de identificação.

Em 25 de Maio de 1973, quando tinha por tarefa a organização, na Margem Sul, de um movimento de jovens trabalhadores, foi preso num autocarro apanhado em Coina, devido a denúncia do jovem com quem se ia encontrar: Silvano, com dezoito anos, era, afinal, informador da PIDE.
Seguiu, primeiro, para a delegação da PIDE em Setúbal, onde não prestou quaisquer declarações. Levado para Caxias, e apesar da recusa em se identificar, foi reconhecido por um guarda do tempo em que visitava a companheira do pai, Albina Fernandes.

Começaram as torturas, tendo a do sono perdurado por 11 dias e 11 noites. Não falou. Quando presente a Tribunal Militar, devido à deserção, ousou denunciar os maus-tratos que a PIDE lhe tinha infligido, o que teve por consequência ser espancado no regresso à prisão.

Libertado em 27 de Abril de 1974, tinha à sua espera a mãe: "Não trocaram uma palavra. Abraçaram-se a chorar, durante largos minutos" [Joana Pereira Bastos, Os últimos presos do Estado Novo, Oficina do Livro, 2013, p. 135].

Recuperar a liberdade não é sinónimo de remeter para o passado os espancamentos e as torturas infligidas pela PIDE. Esses momentos nunca se apagam, continuam alojados na memória e no corpo. Sempre. Por tudo isto, é necessário falar sobre o que foram 48 anos de ditadura.

[João Esteves / https://silenciosememorias.blogspot.com/2019/12/2200-alvaro-monteiro-rodrigues-pato-

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