No decurso da celebração do Centenário de Álvaro Cunhal, foram várias as iniciativas sobre o tema. Na proximidade da Páscoa, faz todo o sentido regressar a ele não unicamente por razões do calendário católico mas porque, mais que nunca, é necessário um quadro esclarecido sobre a ampla unidade que será preciso continuar a defender e a aprofundar.
A história do PCP desmente quem queira criar clivagens e rupturas onde nunca as houve e reiterar rupturas que ocorreram e ocorrerão sempre que a Igreja se coloque do lado do opressor e não do oprimido.
Em 1943, no auge da barbárie nazi-fascista, Álvaro Cunhal escreveu: «... a Igreja... tem apoiado… as atrocidades fascistas… por
isso combatemos… (a sua política) e os sacerdotes fascistas... Mas não
os combatemos pela actividade religiosa… (mas) sim pela actividade
contra o povo e o País…». E «... não esquecemos que muitos ...
são inimigos da Alemanha nazi … (e que) centenas de milhares de
trabalhadores... são... influenciados pelo catolicismo, não podemos
separar-nos dos nossos irmãos, operários e camponeses católicos..., ou
(os) atraímos… para a luta contra o fascismo, ou deixamos que… se
constituam em (sua) reserva… não fazemos a «guerra à religião» e
não pretendemos atingir a liberdade de crença e de prática de culto….
Estendemos lealmente a mão aos católicos... para que participem no
movimento nacional contra o fascismo...».
Em 1946, o IV Congresso do PCP apontou: «…
Lutamos contra o sectarismo e incompreensão de muitos dos nossos
militantes e …antifascistas republicanos. Houve erros de intolerância em
1910 que não devem... repetir-se...». Em «O Partido Comunista, os Católicos e a Igreja», de 1947, Álvaro Cunhal escreveu: «...
As convicções religiosas, por si só, não são susceptíveis de afastar os
homens na realização de um programa social e político,... comunistas e
católicos podem e devem unir-se em defesa dos seus anseios comuns...».
O
VI Congresso, em 1965, consolidou a orientação na relação com os
católicos e outros crentes. A vida comprovou a sua justeza – com o papel
de padres e católicos progressistas na unidade antifascista, na
Revolução, no Portugal de Abril e na sua defesa.
Em 1974, com milhares de católicos militantes do PCP, Álvaro Cunhal afirmou: «…os
comunistas defendem… boas relações do Estado com a Igreja. Esta...
política não se baseia em critérios de oportunidade, mas numa posição de
princípio.… O mundo evolui e a Igreja Católica... mostra também
indícios de... evolução positiva.... Confiamos em que os homens mais
esclarecidos da Igreja… compreendam… a sinceridade (e) as profundas
implicações, para o presente e para o futuro, desta posição do
Partido...».
Nos dias
de hoje, o PCP continua a considerar que as convicções religiosas não
mudam a posição de classe de cada um, nem alteram um programa social e
político progressista.
A
Igreja Católica registou mudanças. Cresceu a fusão do Estado do
Vaticano com o capital financeiro, que factos recentes não parecem ainda
ter superado, mas avançou a secularização e emergiram novas realidades e
dinâmicas. Alargou-se o fosso entre o novo diagnóstico do actual Papa,
da «economia de exclusão e desigualdade», da «economia que mata» e a indefinição ou ocultação de uma resposta de facto transformadora.
Não existe uma «questão religiosa»
em Portugal e o PCP intervirá para que assim continue. Mas a verdade é
que há estruturas da Igreja cuja actividade serve os interesses do
grande capital. Neste quadro o PCP não pode abdicar do direito de
resposta, se isso for impreterível.
A
Igreja deve ser respeitada na acção religiosa e ouvida com atenção no
plano institucional. Nada move os comunistas contra a Igreja, não
acompanhamos posições anticlericais, de génese anarco-maçónica. A
experiência mostra que é positivo o relacionamento regular entre o PCP e
a Igreja, apesar dos preconceitos.
Hoje,
o relacionamento dos comunistas com amplos sectores sociais e de
massas, sejam ou não crentes, tem de aprofundar-se, na defesa dos
trabalhadores, nas instituições, na CDU, na luta por um Portugal
soberano e desenvolvido.
A
experiência prova que não é difícil a convergência. O humanismo, a
proximidade aos pobres e oprimidos, os valores de paz, justiça e
igualdade do «cristianismo primitivo», que resistiu à
assimilação pelo Império Romano, e o acervo cultural dos trabalhadores e
das massas católicas não estão longe dos ideais comunistas.
No caminho para uma alternativa patriótica e de esquerda há passos a consolidar, com os católicos mais próximos da «Teologia de Libertação» e da «Igreja dos Pobres», com sacerdotes e crentes que não militem na política de direita, que não manipulem a religião como «ópio do povo», que se comprometam com a sua fé por um Portugal com futuro.
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NOTA: Este texto faz sucessivas transcrições do blog O Castendo, de que é autor António Vilarigues.
Independente da leitura (obrigatória ) do texto, que fala um pouco da história do Partido Comunista Português, passo a fim de desejar uma Páscoa muito Feliz
ResponderEliminar( tanto quanto possível olhando aos condicionalismos que todos conhecemos )