100 anos de militância a caminho do futuro

1921-2021

terça-feira, 14 de abril de 2020

EM 1991, COM 70 ANOS, NUM MOMENTO HISTÓRICO


foi exactamente assim... embora talvez não tivesse sido exactamente com estas palavras:

No período de Natal de 1991 estávamos, a Zé e eu, em Macau. Era ainda um novato no Parlamento Europeu – tinha sido requisitado pelo Partido para a tarefa havia pouco mais de um ano –, mas não tanto que não tivesse já alguma experiência.
Estávamos em casa cedida amigavelmente por casal amigo que, como os alcatruzes da nora, viera a Lisboa passar o Natal em família. Visitávamos outros amigos que viviam em Macau, alguns ligados à comunicação social, e a minha presença – e situação deputada – não era desconhecida.
Não me surpreendeu, por isso, que no próprio dia de Natal, em que estávamos convidados para consoada em casa amiga, me tivessem telefonado, da televisão local, pedindo-me para ir ao estúdio durante a hora de noticiário.
Avisámos os amigos da minha inevitável chegada mais tardia ao convívio, e lá fui.
Pensava que iria ter perguntas e conversa sobre a tarefa de deputado, sobre a política em Portugal, sobre o que fosse…
Fui amavelmente recebido e fui levado ao estúdio. No começo do telejornal. Então, o que era? Havia notícias de Moscovo, e pediam-me – apresentado como comunista português, deputado em Bruxelas – para comentar.
Gorbatchov demitira-se de secretário-geral do PCUS, extinguira a União Soviética. Que é que eu dizia das notícias?
Apanhado desprevenido, lá tartamudeei uma resposta, mas o motivo porque teria sido convidado, embora fosse esse, não era bem esse: ”… então, e agora?… o Partido Comunista Português, senhor deputado?”.
Como nos momentos de exacerbada tensão, aqueles em que se pede tudo de nós, recuperei uma inusitada calma e frieza e respondi “o que está a acontecer na União Soviética e no Partido Comunista da União Soviética é de enormíssima importância para a União Soviética, para o Mundo, para o Futuro, pelo que é também para o Partido Comunista Português mas… mas o Partido Comunista Português é português, tem 70 anos e não é, nem nunca foi, uma dependência do Partido da União Soviética, e terá a sua resposta à situação, que, como é evidente, não conheço ainda, mas terá…”
Acabou a minha intervenção, acabou o noticiário, fui consoar. Ia muito preocupado, mas satisfeito com a forma como encarara a situação e como respondera (o que nem sempre acontece, e muitas vezes não tem acontecido).

1 comentário:

  1. A inteligência da mente conseguiu safar-se... como se diz em bom português.
    .
    Tenha uma semana de Paz e Amor

    ResponderEliminar