foi exactamente assim... embora talvez não tivesse sido exactamente com estas palavras:
No período de Natal de 1991 estávamos,
a Zé e eu, em Macau. Era ainda um novato no Parlamento Europeu – tinha sido
requisitado pelo Partido para a tarefa havia pouco mais de um ano –, mas não
tanto que não tivesse já alguma experiência.
Estávamos em casa cedida
amigavelmente por casal amigo que, como os alcatruzes da nora, viera a Lisboa
passar o Natal em família. Visitávamos outros amigos que viviam em Macau,
alguns ligados à comunicação social, e a minha presença – e situação deputada –
não era desconhecida.
Não me surpreendeu, por isso, que no
próprio dia de Natal, em que estávamos convidados para consoada em casa amiga,
me tivessem telefonado, da televisão local, pedindo-me para ir ao estúdio
durante a hora de noticiário.
Avisámos os amigos da minha inevitável
chegada mais tardia ao convívio, e lá fui.
Pensava que iria ter perguntas e conversa
sobre a tarefa de deputado, sobre a política em Portugal, sobre o que fosse…
Fui amavelmente recebido e fui
levado ao estúdio. No começo do telejornal. Então, o que era? Havia notícias de
Moscovo, e pediam-me – apresentado como comunista português, deputado em
Bruxelas – para comentar.
Gorbatchov demitira-se de secretário-geral
do PCUS, extinguira a União Soviética. Que é que eu dizia das notícias?
Apanhado desprevenido, lá
tartamudeei uma resposta, mas o motivo porque teria sido convidado, embora
fosse esse, não era bem esse: ”… então, e
agora?… o Partido Comunista Português, senhor deputado?”.
Como nos momentos de exacerbada tensão,
aqueles em que se pede tudo de nós, recuperei uma inusitada calma e frieza e
respondi “o que está a acontecer na União
Soviética e no Partido Comunista da União Soviética é de enormíssima importância
para a União Soviética, para o Mundo, para o Futuro, pelo que é também para o
Partido Comunista Português mas… mas o
Partido Comunista Português é português, tem 70 anos e não é, nem nunca foi,
uma dependência do Partido da União Soviética, e terá a sua resposta à situação,
que, como é evidente, não conheço ainda, mas terá…”
Acabou a minha intervenção, acabou o
noticiário, fui consoar. Ia muito preocupado, mas satisfeito com a forma como
encarara a situação e como respondera (o que nem sempre acontece, e muitas
vezes não tem acontecido).
A inteligência da mente conseguiu safar-se... como se diz em bom português.
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