BENTO ANTÓNIO GONÇALVES (1902 -
1942)
Quando Bento Gonçalves,
Secretário-Geral do Partido Comunista Português, faleceu no Tarrafal, vítima de
uma biliose, já tinha cumprido a pena a que fora condenado pelo Tribunal
Militar Territorial em 3 de Agosto de 1936.
Filho de Germana Alves e de Francisco
Gonçalves, Bento António Gonçalves nasceu em 2 de Março de 1902, em Fiães do
Rio (Montalegre - Trás-os-Montes).
Segundo António Ventura, no livro
Bento Gonçalves. Escritos (1927-1930) [Seara Nova, 1976], e a "Contestação
de Bento Gonçalves à secretaria do Tribunal Militar Especial" [Os
Comunistas 1 - Bento Gonçalves, Opinião, 1976], aos 13 anos, depois de
concluída a instrução primária, já se encontrava a trabalhar em Lisboa, no
Bairro da Sé, como torneiro de madeira e, posteriormente, tornou-se aprendiz de
torneiro mecânico, profissão que manteve até ao fim da vida.
Com pouco mais de 17 anos, em 29 de
Outubro de 1919, foi admitido como aprendiz no Arsenal da Marinha, onde onze
anos depois, em 29 de Setembro de 1930, seria preso, e aí se manteve até 1933 como
operário metalúrgico do quadro (oficinas de máquinas).
Frequentou, segundo o próprio, a
Escola Industrial Afonso Domingues e, em 16 de Junho de 1922, foi alistado no
Exército: aí fez serviço efectivo na Escola de Condutores Militares de
Automóveis, tirou o 2.º ano do Curso elementar de Pilotagem na Escola Auxiliar
de Marinha e embarcou, em Janeiro de 1924, para Angola onde, até 1926,
trabalhou como torneiro mecânico de primeira classe nas Oficinas Gerais do
Caminho de Ferro de Luanda e colaborou com o Sindicato dos Operários locais.
Licenciado em 25 de Março de 1926,
regressou a Portugal e, no ano seguinte, iniciou a sua actividade sindical ao
intervir na reorganização do Sindicato do Pessoal do Arsenal da Marinha, sendo
eleito Secretário-Geral da respectiva Comissão Administrativa.
Em Outubro de 1927, aquando do
décimo aniversário da Revolução de Outubro, deslocou-se à Rússia, tendo Alberto
Vilaça inserido uma fotografia desse tempo no seu livro dedicado a Bento
Gonçalves [Edições Avante!, 2003].
Em 1928, em 20 de Setembro, convicto
que "só o bolchevismo poderá conduzir a nossa classe à emancipação
integral", tornou-se militante do Partido Comunista, sendo Secretário da
Célula do Arsenal da Marinha. Em 21 de Abril do ano seguinte, com apenas 26
anos, foi eleito Secretário-Geral e participou na sua reorganização tendo em
conta as condições resultantes do triunfo da Ditadura Militar de 28 de Maio de
1926: "não se podia aceitar a inactividade de trabalho comunista, tanto
legal, como ilegal, neste momento em que [...] toda a nossa organização
operária se afunda em pleno marasmo, tanto do ponto de vista de ideologia, como
de acção sindical".
Em 29 de Setembro de 1930, foi preso
no seu local de trabalho e enviado para o forte de S. Julião da Barra (8 de
Outubro), de onde seguiu para os Açores, Lajes do Pico, com residência fixa.
Em 15 de Fevereiro de 1931, foi
transferido para Cabo Verde, para as ilhas do Sal e Fogo, de onde regressou em
Fevereiro de 1933.
Nesse mesmo ano, em 9 de Agosto,
Bento Gonçalves entrou na clandestinidade, tendo sobrevivido devido ao apoio e
cotização de militantes do Partido Comunista e doutros opositores à Ditadura,
como Francisco Pulido Valente: Armindo Rodrigues, no livro Um poeta recorda-se
- Memórias de uma vida [Edições Cosmo, 1998], refere que uma "tarde
procurei-o com uma ponta de comoção e contei-lhe que o secretário-geral do
Partido Comunista Português, o camarada Bento Gonçalves, força exclusiva que
sem tréguas combatia a ditadura do Salazar, atravessava dificuldades tremendas,
até fome sofrendo, e que urgia dinheiro para ele. Imediatamente se levantou,
foi ao casaco que guardava num compartimentozinho, dele tirou a carteira
[...]".
Em Julho-Agosto de 1935, interveio
no VII Congresso da Internacional Comunista organizado em Moscovo, sendo preso,
juntamente com José de Sousa e Júlio Fogaça, pouco tempo depois do seu regresso
a Portugal, em Novembro.
Transferido para o Aljube em 20 de
Dezembro de 1935, foi deportado para Angra do Heroísmo em 8 de Janeiro de 1936,
condenado a 4 anos de prisão e enviado para o Tarrafal, onde chegou a 29 de
Outubro do mesmo ano. Mesmo longe, vivendo em condições inimagináveis para os
vindouros, é (mais uma vez) um dos obreiros da reorganização do Partido
Comunista iniciada e concretizada em 1941-1942. Aí dirigiu a Organização
Prisional Comunista e redigiu "Palavras Necessárias" e "Duas
Palavras".
Nome muito respeitado por todos
aqueles que com ele conviveram no local de trabalho, na tropa, no Partido
Comunista, nas prisões e deportações, Bento Gonçalves faleceu aos 40 anos, em
11 de Setembro de 1942, sem a devida assistência médica no Campo de
Concentração do Tarrafal. Já tinha cumprido a pena a que fora condenado, sendo
mais uma vítima das muitas arbitrariedades do fascismo.
Em 1973, Virgínia de Moura editou
Palavras Necessárias. A vida do proletária em Portugal de 1872 a 1927, com
introdução sua e de António Lobão Vital.
Em 11 de Setembro de 1974, no 32.º
Aniversário da sua morte, realizou-se uma sessão evocativa no Arsenal da
Marinha/Alfeite, estando presentes centenas de operários, assim como Francisco
Miguel e Pedro Soares que estiveram com ele no Tarrafal.
[João Esteves / Blogue Silêncios e
Memórias http://silenciosememorias.blogspot.com/2017/09/1646-bento-goncalves-i.html]
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