- Porque nem todos leram com a
atenção devida -
Manifesto do Partido Comunista
Karl Marx e Friederich Engels
8ª página e última
Os estados médios [Mittelstände]
— o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artesão, o camponês —, todos
eles combatem a burguesia para assegurar, face ao declínio, a sua existência
como estados médios. Não são, pois, revolucionários, mas conservadores. Mais
ainda, são reaccionários (30*), procuram fazer andar
para trás a roda da história. Se são revolucionários, são-no
apenas à luz da sua iminente passagem para o proletariado, e assim não defendem
os seus interesses presentes, mas os futuros, e assim abandonam a sua posição
própria para se colocarem na do proletariado.—
O lumpenproletariado, esta
putrefacção passiva das camadas mais baixas da velha sociedade, é aqui e além
atirado para o movimento por uma revolução proletária, e por toda a sua
situação de vida estará mais disposto a deixar-se comprar para maquinações
reaccionárias.
As condições de vida da velha
sociedade estão aniquiladas já nas condições de vida do proletariado. O
proletário está desprovido de propriedade; a sua relação com a mulher e os
filhos já nada tem de comum com a relação familiar burguesa; o trabalho
industrial moderno, a subjugação moderna ao capital, que é a mesma na
Inglaterra e na França, na América e na Alemanha, tirou-lhe todo o carácter
nacional. As leis, a moral, a religião são para ele outros tantos preconceitos
burgueses, atrás dos quais se escondem outros tantos interesses burgueses.
Todas as classes anteriores que
conquistaram a dominação procuraram assegurar a posição na vida já alcançada,
submetendo toda a sociedade às condições do seu proveito. Os proletários só
podem conquistar as forças produtivas sociais abolindo o seu próprio modo de
apropriação até aqui e com ele todo o modo de apropriação até aqui. Os
proletários nada têm de seu a assegurar, têm sim de destruir todas as
seguranças privadas (31*)e asseguramentos
privados.
Todos os movimentos até aqui foram
movimentos de minorias ou no interesse de minorias. O movimento proletário é o
movimento autónomo da maioria imensa no interesse da maioria imensa. O
proletariado, a camada mais baixa da sociedade actual, não pode elevar-se, não
pode endireitar-se, sem fazer ir pelos ares toda a superstrutura [Überbau]
das camadas que formam a sociedade oficial. Pela forma, embora não pelo
conteúdo, a luta do proletariado contra a burguesia começa por ser uma luta
nacional. O proletariado de cada um dos países tem naturalmente de começar por
resolver os problemas com a sua própria burguesia.
Ao traçarmos as fases mais gerais do
desenvolvimento do proletariado, seguimos de perto a guerra civil mais ou menos
oculta no seio da sociedade existente até ao ponto em que rebenta numa
revolução aberta e o proletariado, pelo derrube violento da burguesia, funda a
sua dominação.
Toda a sociedade até aqui repousava,
como vimos, na oposição de classes opressoras e oprimidas. Mas para se poder
oprimir uma classe, têm de lhe ser asseguradas condições em que possa pelo
menos ir arrastando a sua existência servil. O servo [Leibeigene]
conseguiu chegar, na servidão, a membro da comuna, tal como o pequeno burguês [Kleinbürger]
a burguês [Bourgeois] sob o jugo do absolutismo feudal. Pelo contrário,
o operário moderno, em vez de se elevar com o progresso da indústria, afunda-se
cada vez mais abaixo das condições da sua própria classe. O operário torna-se
num indigente [Pauper] e o pauperismo [Pauperismus] desenvolve-se
ainda mais depressa (32*) do que a população e a
riqueza. Torna-se com isto evidente que a burguesia é incapaz de continuar a
ser por muito mais tempo a classe dominante da sociedade e a impor à sociedade
como lei reguladora as condições de vida da sua classe. Ela é incapaz de
dominar porque é incapaz de assegurar ao seu escravo a própria existência no
seio da escravidão, porque é obrigada a deixá-lo afundar-se numa situação em
que tem de ser ela a alimentá-lo, em vez de ser alimentada por ele. A sociedade
não pode mais viver sob ela [ou seja, sob a dominação da burguesia], i. é, a
vida desta já não é compatível com a sociedade.
A condição essencial (33*)para a existência e
para a dominação da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de
privados, a formação e multiplicação do capital; a condição do capital é o
trabalho assalariado. O trabalho assalariado repousa exclusivamente na
concorrência entre os operários. O progresso da indústria, de que a burguesia é
portadora, involuntária e sem resistência, coloca no lugar do isolamento dos operários
pela concorrência a sua união revolucionária pela associação. Com o
desenvolvimento da grande indústria é retirada debaixo dos pés da burguesia a
própria base sobre que ela produz e se apropria dos produtos. Ela produz, antes
do mais, o seu (34*) próprio coveiro. O seu
declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.
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