- Porque nem todos leram com a
atenção devida -
Manifesto do Partido Comunista
Karl Marx e Friederich Engels
2ª página
I - Burgueses e Proletários(3*)
A história de toda a sociedade até
aqui(4*) é a história de lutas de classes.
[Homem] livre e escravo, patrício e
plebeu, barão e servo [Leibeigener], burgueses de corporação [Zunftbürger]
(5*)e oficial, em suma, opressores e oprimidos,
estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta,
ora oculta ora aberta, uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração
revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta.
Nas anteriores épocas da história
encontramos quase por toda a parte uma articulação completa da sociedade em
diversos estados [ou ordens sociais — Stände], uma múltipla gradação das
posições sociais. Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus,
escravos; na Idade Média: senhores feudais, vassalos, burgueses de corporação,
oficiais, servos, e ainda por cima, quase em cada uma destas classes, de novo
gradações particulares.
A moderna sociedade burguesa, saída
do declínio da sociedade feudal, não aboliu as oposições de classes. Apenas pôs
novas classes, novas condições de opressão, novas configurações de luta, no
lugar das antigas.
A nossa época, a época da burguesia,
distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A
sociedade toda cinde-se, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em
duas grandes classes que directamente se enfrentam: burguesia e proletariado.
Dos servos da Idade Média saíram os Pfahlbürger
(38) das primeiras cidades; desta Pfahlbürgerschaft
desenvolveram-se os primeiros elementos da burguesia [Bourgeoisie].
O descobrimento da América, a
circum-navegação de África, criaram um novo terreno para a burguesia
ascendente. O mercado das Índias orientais e da China, a colonização da
América, o intercâmbio [Austausch] com as colónias, a multiplicação dos
meios de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à
indústria, um surto nunca até então conhecido, e, com ele, um rápido
desenvolvimento ao elemento revolucionário na sociedade feudal em
desmoronamento.
O modo de funcionamento até aí
feudal ou corporativo da indústria já não chegava para a procura que crescia
com novos (6*)mercados. Substituiu-a a manufactura. Os
mestres de corporação foram desalojados pelo estado médio [Mittelstand]
industrial; a divisão do trabalho entre as diversas corporações [Korporationen]
desapareceu ante a divisão do trabalho na própria oficina singular.
Mas os mercados continuavam a
crescer, a procura continuava a subir. Também a manufactura já não chegava
mais. Então o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. Para o
lugar da manufactura entrou a grande indústria moderna; para o lugar do estado
médio industrial entraram os milionários industriais, os chefes de exércitos
industriais inteiros, os burgueses modernos.
A grande indústria estabeleceu o
mercado mundial que o descobrimento da América preparara. O mercado mundial deu
ao comércio, à navegação, às comunicações por terra, um desenvolvimento
imensurável. Este, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria, e na
mesma medida em que a indústria, o comércio, a navegação, os caminhos-de-ferro
se estenderam, desenvolveu-se a burguesia, multiplicou os seus capitais,
empurrou todas as classes transmitidas da Idade Média para segundo plano.
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