A SUPERIORIDADE MORAL DOS COMUNISTAS
Álvaro Cunhal
Os comunistas não se distinguem apenas pelos seus
elevados objetivos e pela sua ação revolucionária. Distinguem-se também pelos
seus elevados princípios morais.
A moral dos comunistas tem a sua base objectiva nas
condições de trabalho e de vida do proletariado, no processo da sua luta contra
o capital e, desde a vitória da revolução socialista, na nova sociedade
libertada da exploração. Tem, como principal factor subjectivo, o papel
educativo desempenhado pela vanguarda revolucionária guiada pelo
marxismo-leninismo.
A moral dos comunistas é contrária e superior à moral
burguesa. Constitui um elemento integrante da força revolucionária do
proletariado e da sua vanguarda. Age como «força material» na transformação do
mundo. E, voltada para o futuro, indica os traços essenciais da transformação
do próprio homem.
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Pela sua origem, a sua natureza, a sua formação, o seu
desenvolvimento, a moral dos comunistas é uma moral de classe – é a moral do
proletariado revolucionário da época cujo conteúdo essencial é a passagem do
capitalismo ao socialismo.
Marx, Engels e Lenine mostraram o vazio das concepções
acerca de uma moral eterna, absoluta, válida para todas as classes, todas as
épocas e todas as condições e que, por isso mesmo, «não é aplicável nunca e em
parte alguma». Nas sociedades divididas em classes antagónicas, a moral foi
sempre uma moral de classe, basilarmente assente nas condições da vida social.
«Os homens (sublinhou Engels), consciente ou inconscientemente, derivam as suas
ideias éticas, em última análise, das relações práticas nas quais é baseada a
sua posição de classe – das relações económicas nas quais realizam a produção e
a troca».
A moral, como as outras superstruturas, tem um
desenvolvimento próprio, contínuo e relativamente independente. Na moral
proletária integram-se as aquisições progressistas do património ético deixado
pelas classes ascendentes e pelos homens mais esclarecidos que, ao longo dos
séculos, sonharam e lutaram por um mundo de justiça social e de aperfeiçoamento
humano. O que nela é essencial não são porém os elementos herdados do passado,
mas os elementos novos resultantes da natureza, objectivos e missão histórica
do proletariado. Ao antagonismo irreconciliável de interesses entre o
proletariado e a burguesia corresponde um antagonismo moral, que evidencia o
apodrecimento e agonia do capitalismo e a certeza da vitória universal da causa
proletária.
Da exploração da classe operária, das massas
trabalhadoras, dos povos subjugados – exploração imposta pela violência do
aparelho do Estado, pela repressão, terror e a guerra – resultam os sentimentos
e o comportamento moral da burguesia: individualismo e egoísmo ferozes,
indiferença pela sorte dos seres humanos, rapacidade, venalidade, completa
falta de escrúpulos, redução a simples mercadorias dos valores culturais e
espirituais. Com o aprofundamento da crise geral do capitalismo, a burguesia
tende a abandonar quaisquer regras éticas e a tornar-se cada vez mais amoral.
Sem preocupações morais, legitima ela própria tudo quanto lhe permite manter e
intensificar a exploração dos trabalhadores e dos povos.
No que respeita ao proletariado, as condições básicas
que lhe conferem a sua força revolucionária, determinam também os traços
essenciais da sua ética.
A sua situação como classe mais explorada, o seu papel
na grande produção, a força do número, o facto de que os seus interesses e fins
coincidem com as leis objectivas de desenvolvimento social, o facto de que, na
revolução, os proletários (nas palavras do Manifesto) nada têm a perder
senão as suas cadeias e têm um mundo a ganhar – dão ao proletariado a
combatividade, a determinação, o espírito de organização, a coesão, a
solidariedade, o hábito da ajuda recíproca, a disciplina, a abnegação, a
capacidade de sacrifício, a confiança nas próprias forças e no próprio futuro,
que o tornam «a única classe verdadeiramente revolucionária», «a única capaz de
ser revolucionária até ao fim».
Os princípios morais do proletariado não «dissolvem o
indivíduo nas massas», como pretendem alguns, antes elevam a consciência e a
personalidade individuais, transmitindo-lhes a força moral da classe. A partir
das próprias raízes sociais, a formação moral do proletariado aparece como a
valorização e o melhoramento do homem.
O papel do proletariado como «guia de todas as
massas laboriosas e exploradas» é de particular importância para a educação e
reforço moral tanto do próprio proletariado como das massas. O proletariado
reage e luta não apenas contra a exploração a que é sujeito, mas «contra todos
os abusos, todas as manifestações de arbitrariedade, de opressão e de
violência quaisquer que sejam as classes que são vítimas. «O
proletariado não é uma classe realmente revolucionária (insistiu Lenine) senão
quando se afirma e comporta como vanguarda de todos os trabalhadores e de todos
os explorados, como o seu guia na luta pelo derrubamento dos exploradores».
O papel de guia e defensor de todos os explorados
reforça nas fileiras do proletariado e da sua vanguarda os sentimentos morais
típicos de generosidade, de solidariedade, de abnegação total. Nas classes e
camadas não proletárias (particularmente no campesinato e pequena burguesia
urbana), a influência proletária intervém como corrector dos efeitos na
consciência das raízes de classe.
Incompreensões políticas acerca do papel do
proletariado têm inevitáveis reflexos na esfera moral. Se não se atribui o
papel dirigente ao proletariado, abrem-se directa e largamente as portas à
influência moral da burguesia. Se se cai no sectarismo e se procura inocular no
proletariado a indiferença pelos interesses de outras classes e camadas
exploradas e oprimidas, corrompem-se princípios morais basilares.
O desenvolvimento da moral proletária e comunista
caminha a par e passo com o avanço da luta de classes, com o progresso da
consciência política do proletariado, com a definição dos seus objectivos, com
o aperfeiçoamento da sua organização e com os êxitos e vitórias da sua luta
emancipadora. Podem considerar-se quatro fases nesse desenvolvimento.
A primeira é anterior à criação do socialismo
científico. Então a formação da moral proletária, como Marx e Engels
sublinharam, era espontânea e instintiva. Decorria directamente das condições
de vida e de trabalho e da oposição à moral burguesa. A moral do proletariado, dominado
pela burguesia exploradora, é então essencialmente uma expressão da «sua
indignação contra essa dominação» e dos «interesses futuros dos oprimidos».
A segunda fase começa com a fundação do socialismo
científico, com a definição dos objectivos de luta e da missão histórica do
proletariado. O marxismo não cria a moral da classe. Mas explica-a, formula-a,
sistematiza-a, desenvolve-a, expurga-a de elementos estranhos, liga-a à luta
quotidiana e dá-lhe uma perspectiva, tendo em conta as transformações revolucionárias,
que o proletariado, guiado pelo marxismo-leninismo, é chamado a efectivar.
A terceira fase começa com a criação do partido do
proletariado de novo tipo, com a formação da vanguarda revolucionária
leninista. O partido de novo tipo formou o revolucionário de novo tipo, cujos
traços morais fundamentais consubstanciam as características típicas superiores
do proletariado e exercem por sua vez profunda influência na classe e nas
massas.
A quarta fase é inaugurada pela revolução socialista
de Outubro, pela conquista do poder pelo proletariado. De classe exploradora e
oprimida, o proletariado passa a ser classe governante. A instituição da
propriedade social dos meios de produção, a composição da sociedade em classes
amigas com interesses comuns, a democracia socialista, a igualdade das nações,
dos cidadãos de todas as raças, do homem e da mulher, constituem uma base
objectiva nova e radicalmente diversa. Com a conquista do poder pelo
proletariado, inscreve-se na ordem do dia a criação do homem novo – o
construtor da nova sociedade.
Os comunistas são os melhores representantes da ética
da classe, de que constituem a vanguarda revolucionária. A moral comunista
corresponde inteiramente aos interesses, às aspirações e aos objectivos do
proletariado. Instrumento de acção revolucionária, ela serve a luta para pôr
fim ao capitalismo e à exploração do homem pelo homem, para construir o
socialismo e o comunismo.
___________2
Os ideais políticos, a prática revolucionária, a acção
do partido, intervêm como poderosos factores do desenvolvimento e
enriquecimento da moral proletária e comunista.
Os ideais políticos influem nas representações e
atitudes psicológicas e transplantam-se para os conceitos morais e destes para
as atitudes e hábitos de procedimento.
Da própria consciência dos objectivos e da missão
histórica do proletariado decorre uma nova concepção da vida e do homem, que se
exprime numa nova ética. A intransigência para com a exploração e os
exploradores, para com a opressão e os opressores, para qualquer forma de
parasitismo, a indignação perante as injustiças, o reconhecimento nos outros
seres humanos, independentemente da sua nacionalidade, raça ou sexo, de
direitos iguais aos próprios, convertem-se em conceitos morais, necessariamente
associados aos objectivos políticos.
A Revolução de Outubro (mais tarde as outras
revoluções socialistas vitoriosas), tornando realidade os objectivos de combate
dos trabalhadores, deu potente impulso não só à organização e acção
revolucionárias como à elevação da consciência e da formação morais do
proletariado de todos os países e das suas vanguardas.
Em cada país existem condições específicas de que têm
resultado e resultarão traços particulares e originais do processo
revolucionário e da nova sociedade. Mas, nos traços essenciais, o socialismo
tal como existe na União Soviética e noutros países socialistas é o ideal de
luta de todos os explorados e oprimidos, é a prefiguração do eu próprio futuro.
Não se trata já de uma previsão teórica, como foi antes de 1917. Trata-se de
uma aquisição histórica, da maior realização e da maior conquista do
proletariado internacional, com um poder de atracção e de convencimento mil
vezes superior ao da mais bela das utopias. Onde quer que se oponha o
socialismo por que se luta ao socialismo tal como existe enfraquece-se e
compromete-se a força ideológica, política e moral do proletariado e da sua
vanguarda revolucionária. Em cada país, a moral proletária e comunista é
extraordinariamente reforçada pelo facto de que se luta por um regime social
que é já uma realidade em numerosos países; e também pelo facto de que os
trabalhadores consideram a URSS e outros países socialistas como a sua maior
fortaleza, a que se sentem indissoluvelmente ligados pela solidariedade
recíproca, pelos laços do internacionalismo proletário.
O internacionalismo proletário, parte constitutiva do
marxismo-leninismo, é, na sua própria essência, uma concepção do mundo, uma
política e uma ética.
A identidade dos interesses e aspirações dos
trabalhadores de todos os países; a sua unidade, solidariedade e ajuda
recíproca; as relações de fraternal amizade e a cooperação entre os países
socialistas e entre os partidos comunistas lutando nas mais variadas condições;
o reconhecimento da igualdade das nações e dos povos e a sua aproximação
fundada na identidade de interesses dos trabalhadores; a subordinação do
interesse particular imediato ao interesse geral – todos esses aspectos do
internacionalismo proletário inspiram a política dos partidos, a luta dos
trabalhadores, a formação moral e o comportamento dos homens.
Ao passo que o nacionalismo burguês, o chauvinismo, a
estreiteza nacional, as tendências para o isolamento e para uma espécie de
autarquia política e ideológica, se repercutem, no plano moral, em conceitos e
sentimentos de egoísmo, de superioridade nacional e racial, de menosprezo pelos
interesses gerais – o internacionalismo proletário é fonte criadora de
conceitos, sentimentos e atitudes de generosidade de colectivismo, de
fraternidade entre os trabalhadores e os comunistas de todos os países e entre
todas as raças e nações, de prontidão para o sacrifício pelos interesses
gerais.
Se os ideais e objectivos políticos constituem, já por
si, um factor do desenvolvimento da moral do proletariado, a prática
revolucionária representa nesse desenvolvimento um decisivo papel.
A prática revolucionária é a melhor escola do
comportamento e do carácter. Tomando formas diversas segundo o país, segundo a
etapa da revolução e as condições existentes em cada caso, é sempre uma luta
séria, continuada, tenaz, voltada para objectivos precisos. O espírito
combativo, a paixão da luta – o «não poder ficar tranquilo e lançar-se ao
combate sem descanso» --, a unidade, a camaradagem, a solidariedade, a
abnegação, a rejeição do conformismo e do servilismo, a capacidade para
aprender não só com os sucessos mas também com os insucessos, o saudável
optimismo baseado no conhecimento das leis da evolução social, a inabalável
confiança no futuro, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, mesmo em horas
amargas de derrota – são traços típicos do comportamento dos comunistas de
todos os países.
O desenvolvimento do processo revolucionário mundial
foi e é possível porque, à frente da classe operária e das massas, os
comunistas souberam e sabem dar provas tanto de clarividência política como de
força moral. Cada revolução socialista, a começar pela de Outubro, tem atrás de
si uma luta dura e complexa, que não poderia ter-se desenvolvido vitoriosamente
sem enormes sacrifícios da vanguarda. O longo caminho da revolução proletária
está marcado pela devotada actividade de milhões de comunistas, que tudo
entregaram de si próprios à grande causa comum. Aqueles que deram a vida nos
combates de classe, na revolução, na luta armada, nas guerras justas,
assassinados ou torturados até à morte pelo inimigo, nas prisões e campos de
concentração, testemunham gloriosamente a superioridade moral dos combatentes
da vanguarda do proletariado, inspirados pelo marxismo-leninismo.
Ainda hoje há dezenas de países (Haiti, Guatemala,
Paraguai, Brasil, Portugal, Espanha, Grécia, Sudão, África do Sul, Indonésia,
Irão, agora o Chile e tantos outros), onde ser comunista significa ser
perseguido, preso, torturado, condenado a elevadas penas, em muitos casos
executado ou assassinado. Para viver e lutar longos anos na clandestinidade,
sofrendo privações de toda a espécie e defrontando o perigo hora a hora, é
indispensável uma robusta formação moral. Em tais condições atingem elevado
nível a fraternidade e a solidariedade recíprocas dos militantes. Quando, sendo
preso, o militante suporta as torturas mais bestiais, demonstra que, se a
resistência física tem um limite que é a mote, a resistência moral do
comunista, essa nada pode vencê-la.
O marxismo-leninismo atribui um decisivo papel à
vanguarda revolucionária. Combate ao mesmo tempo as concepções
pequeno-burguesas acerca dos «heróis libertadores». Para os comunistas, as
massas são as obreiras da história e a classe operária a coveira do
capitalismo. A tarefa da vanguarda é elevar a consciência e a combatividade da
classe e das massas, conduzi-las à luta e à vitória. A capacidade da vanguarda
para cumprir essa tarefa revela-se particularmente nas situações de fluxo e
revolucionário e de crise revolucionária, quando a ética proletária e comunista
ganha amplas massas, que se elevam por vezes, em muitos aspectos, ao nível da
moral da vanguarda.
Lenine sublinhava que «para que uma revolução tenha
lugar é necessário (…) conseguir que a maioria dos operários (ou, pelo menos, a
maioria dos operários conscientes, reflectidos, politicamente activos) tenha compreendido
a necessidade da revolução e esteja pronta a morrer por ela».
Os factores políticos necessários à revolução são
assim acompanhados de um importante factor moral: o alargamento, para além da
vanguarda, da determinação de dar a própria vida. A generalização a amplas
massas de características morais dos combatentes da vanguarda, a transformação
do heroísmo num fenómeno de massas, constituem um dos critérios das verdadeiras
revoluções. A experiência de cada revolução socialista o demonstrou. E o mesmo
se pode dizer de revoluções e de grandes lutas dos povos pela libertação do
jugo imperial.
Foi assim na Revolução de Outubro, na luta do primeiro
Estado de operários e camponeses contra a intervenção, na grande guerra
vitoriosa da URSS contra o invasor hitleriano. Foi assim na guerra de Espanha.
Foi assim na luta dos guerrilheiros jugoslavos, búlgaros, polacos, albaneses,
franceses, italianos, belgas e outros no decurso da segunda guerra mundial. Foi
assim na luta dos povos do Oriente contra o militarismo japonês. Foi assim nas
revoluções chinesa e cubana. Foi assim na luta contra a agressão imperialista
do povo do Vietname, dos outros povos da Indochina, do povo coreano. Foi assim
na Argélia e em muitos outros países que conquistaram pela luta a independência
nacional. Assim está sendo com os povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique em
luta contra a opressão colonialista.
A prática revolucionária não termina, como pretendem
certos ideólogos pequeno-burgueses, depois da conquista do poder. A construção
do socialismo e do comunismo outra coisa não é que prática revolucionária,
colocando à vanguarda tarefas não menos complexas que as anteriores.
Para organizar e conduzir as massas trabalhadoras ao
derrubamento do poder da burguesia, o proletariado revela o seu «supremo
heroísmo». Mas a tarefa de conduzir as massas à nova construção económica era,
no dizer de Lenine, «mais difícil que a primeira, porque não pode ser cumprida
por simples actos de heróico fervor; exige um mais prolongado, persistente e
difícil heroísmo de massas, no trabalho prosaico de todos os dias».
A construção do socialismo e do comunismo é a tarefa
complexa que alguma vez foi realizada. É o maior empreendimento revolucionário
e a maior epopeia humana de todos os tempos. Na nova sociedade é cada vez mais
importante a educação das massas na ética proletária e comunista, cujo conteúdo
se enriquece com o desenvolvimento social. Aumenta o papel e alarga-se o campo
de acção dos princípios morais. É característico que o PCUS tenha inscrito no
seu programa o «código moral do construtor do comunismo» indicando, entre
outros, como princípio basilares, a dedicação à causa comunista, o amor à
pátria socialista e aos países socialistas, a nova atitude para com trabalho, o
colectivismo, a assistência mútua e a camaradagem, as relações humanas de mútuo
respeito, amizade e fraternidade, a rejeição do ódio nacional e racial, a
solidariedade para com os trabalhadores dos outros países e para com todos os
outros povos. À frente dos Estados socialistas, os outros partidos irmãos dão
também grande relevo aos princípios morais.
A prática revolucionária, antes e depois da conquista
do poder, tem assim profundas repercussões na esfera moral. A um mundo melhor
por que os proletários oprimidos lutam e que os proletários emancipados
constroem corresponde um homem melhor, homem que se torna irmão do homem e que
trabalha e luta pelo bem comum.
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O Partido, vanguarda política revolucionária do
proletariado, é também a sua vanguarda moral. O Partido educa os seus membros
nos princípios da mora proletária e comunista e exerce decisivo papel na
elevação da consciência moral da classe operária e de todos os explorados e
oprimidos.
Essa acção educativa é realizada através da orientação
política, das palavras de ordem e da acção quotidiana do Partido.
Uma linha política justa é factor de educação e de
força moral. Influência inversa tem o oportunismo. No oportunismo de direita, o
culto do imediato e do «possível», a renúncia a objectivos essenciais,
concessões de princípio, tendem a diminuir a combatividade e a prontidão para o
sacrifício e abrem caminho à influência burguesa na mentalidade e no
comportamento. O oportunismo de «esquerda», designadamente o sectarismo, conduz
ao desprezo efectivo pelas massas, ao individualismo, ao afrouxamento da
solidariedade.
Os princípios orgânicos do Partido têm também
profundas incidências morais.
A observância dos princípios leninistas não só é
essencial para garantir a unidade de pensamento e de acção do Partido e
possibilitar uma orientação acertada e a rectificação de erros eventuais como
desempenha um papel primacial na educação moral dos militantes. A submissão da
minoria à maioria e dos organismos inferiores aos superiores, a disciplina, a
crítica e a autocrítica, os métodos de trabalho colectivo, imprimem traços
específicos ao carácter e ao comportamento dos membros do Partido: camaradagem,
modéstia, lealdade, confiança recíproca, respeito pela opinião dos outros e
franqueza na defesa das próprias opiniões. Inversamente, o revisionismo e os
desvios dos princípios leninistas de organização exercem uma influência
desmoralizadora. Se, no Partido, se instala um clima em que se não respeitam os
princípios democráticos, em que a voz dos militantes é abafada, em que a
crítica «de baixo para cima» dá lugar a represálias, em que os métodos
administrativos de direcção se tornam regra, desenvolvem-se o abuso da
autoridade, a irresponsabilidade, a auto-suficiência, o menor respeito pela
verdade, a falta de coragem moral, o burocratismo, o carreirismo e o
servilismo. Se se adoptam concepções anarquizantes (pluralidade ideológica,
criticismo em vez de crítica, desrespeito pelas decisões dos organismos
superiores, oficialização do fraccionismo) desenvolve-se o individualismo,
quebra-se o espírito de unidade e do colectivo e, da mesma forma, a
irresponsabilidade e a auto-suficiência encontram favorável caldo de cultura.
As deformações morais resultantes de tais desvios pagam-se sempre caro, além do
mais porque tendem a tornar-se «um estilo», que cristaliza em numerosos
militantes e cuja rectificação é extremamente complexa e demorada.
O âmbito do trabalho educativo do Partido é muito
vasto, abrangendo praticamente todos os aspectos da conduta. Mesmo que um
membro do Partido seja esforçado e cumpra as tarefas do dia a dia, seria errado
considerar de importância «secundária» o seu comportamento moral no local de
trabalho, na família, na vida pessoal. A conduta moral dos comunistas não é um
problema privado, que diga apenas respeito a cada qual. Essa conduta tem
repercussões na actividade e no prestígio do Partido. Pertence também em certa
medida ao Partido.
A força do exemplo, pelo seu extraordinário
poder de convencimento e de atracção junto das massas, é um dos grandes trunfos
da acção dos comunistas.
O militante sério e modesto que, nas mais diversas
condições, defende infatigavelmente os interesses dos trabalhadores, o
clandestino que suporta sem abrir boca cruéis torturas, o comunista soldado ou
guerrilheiro que dá a vida em defesa dos seu povo, o herói do trabalho
socialista, iluminam com os seus exemplos o caminho da luta, alargam e reforçam
o prestígio e influência do Partido, atraem às suas fileiras muitos novos
combatentes.
Falando dos primeiros anos depois da vitória de
Outubro, Lenine salientava que o exemplo dado pelos comunistas, a devoção aos
interesses do povo, a energia na luta contra os inimigos, a firmeza nos
momentos difíceis, a abnegada coragem, tiveram tal impacte nas massas que «o
poder de simpatia dos operários e camponeses pela sua vanguarda provou por
si próprio ser capaz de realizar milagres».
Na história do movimento operário de todos os países
se verificam, numa ou noutra escala, numa ou noutra época, tais «milagres»
provocados pelo exemplo dos comunistas.
As massas não só aferem, pela sua experiência, a
justeza da orientação política e das palavras de ordem do Partido como estão
particularmente atentas e são particularmente sensíveis ao exemplo moral dado
pelos seus membros. Exemplo de dedicação. Exemplo de combatividade e de firmeza.
E também exemplo de comportamento pessoal num sentido mais largo: exemplo de
dignidade e da intransigência para com as concepções da moral burguesa e as
práticas dela decorrentes. Se a vanguarda ajuíza das influências da moral
burguesa sobre as massas, as massas julgam por sua vez o comportamento moral da
vanguarda. Os comunistas têm de agir de forma a passar com honra um tal
julgamento.
Seria utopia pretender que os comunistas fossem seres
«puros» e isentos de faltas. «O que distingue o marxismo do antigo socialismo
utópico (escreve Lenine) é que este queria construir a nova sociedade, não com
a massa de material humano engendrado pelo capitalismo mercantil, espoliador,
imundo, sangrento, mas com seres particularmente virtuosos educados em moldes
ou em estufas especiais.» A revolução não se faz com seres ideais. Faz-se com
homens que sofrem influências morais negativas do capitalismo e dos variados e
omnipresentes meios de acção espiritual deixados por milénios de sociedades
divididas em classes antagónicas, nas quais a moral dominante era a moral das
classes dominantes, isto é, das classes exploradoras. Esta situação
incontroversa não leva à renúncia do trabalho educativo do Partido, antes
aumenta a sua responsabilidade.
O Partido chama a si os melhores, os mais conscientes,
os mais dedicados ao bem comum. Mas também vêm ao Partido, quaisquer sejam as
condições em que actuam (no poder, legal, clandestino), homens com falhas mais
ou menos graves na sua formação e na sua conduta. Utilizando a arma da crítica
e da autocrítica, o Partido ajuda os seus membros a superar debilidades e
faltas e forja nas próprias fileiras lutadores infatigáveis, generosos,
dedicados, pessoalmente isentos, corajosos, leais despretensiosos e simples –
homens e mulheres capazes de inspirar, pelo seu exemplo, os «milagres» de que
falava Lenine.
A luta entre o socialismo e o imperialismo também se
trava no terreno moral. O imperialismo mobiliza imensos recursos para tentar
enfraquecer e corromper moralmente o proletariado e elementos da vanguarda. Com
uma histérica campanha anti-soviética e de calúnias contra outros países
socialistas, procura desacreditar os ideais do comunismo, convencer os
trabalhadores de que as revoluções socialistas não trouxeram o que eles
esperavam, de que o socialismo tal como existe «não lhes serve». Procura assim
semear o desânimo acerca da possibilidade de libertação dos trabalhadores,
quebrar neles o espírito de solidariedade, coesão, unidade e confiança na
própria causa.
Ao mesmo tempo, tudo faz para corromper e afastar do
caminho da luta as massas trabalhadoras. Mantém uma «aristocracia operária»,
assimilada aos hábitos, costumes e gostos burgueses e pequeno-burgueses.
Difunde, pelas formas mais subtis, a admiração pelo dinheiro e o ideal da
«sociedade de consumo». Torna a depravação sinónimo de «liberdade sexual», a
pornografia critério da «liberdade de criação», a violência inútil e criminosa
«ideal» de coragem. Utiliza intensamente todos os meios de propaganda, todas as
formas de criação artística, para incitar ao egoísmo e ao desregramento de
costumes. Os «heróis» da literatura, do cinema, do teatro, são seres marginais,
bandidos, degenerados. O homem retratado na pintura e escultura é um ser
destorcido, retalhado e monstruoso. O imperialismo procura gravar no espírito
das massas uma visão pessimista e mesmo apocalíptica do mundo e arrastá-la na
própria decadência. Tudo faz para quebrar e desagregar o espírito e o
comportamento de classe dos trabalhadores, para arrancar estes (e
particularmente a juventude) não só à influência política das suas vanguardas
revolucionárias como à influência da moral proletária e comunista.
Errado seria subestimar os efeitos desses poderosos
meios de corrupção. Mas mais errado seria concluir pela impossibilidade de, na
sociedade capitalista, contrariar tal acção desmoralizante, ou (ainda pior)
condescender com os cânones morais ou amorais da burguesia, sob pretexto de que
a acção política é o essencial e amoral secundária. As condições de trabalho e
de vida do proletariado nos países capitalistas continuam sempre sendo factores
de gestação espontânea dos elementos positivos da moral de classe. E as
vanguardas revolucionárias leninistas, conduzindo as massas à luta, travando a
batalha ideológica, mostrando confiantes a perspectiva do futuro, apontado nas
realizações da URSS e outros países socialistas, estão em condições de subtrair
amplas massas à influência da burguesia e de educá-la nos elevados princípios
da moral proletária.
A luta entre a moral burguesa e a moral proletária e
comunista não acaba com o triunfo da revolução. Nos países socialistas pesam,
durante gerações, hábitos e tradições morais. A moral burguesa tem ainda
suportes objectivos, embora em vias de extinção. A sua influência exerce-se
também de fora, através dos diversos meios de informação e contacto, que
se tornam mais densos pela cooperação internacional e o turismo. Também nos
países socialistas se trava essa batalha. Mas aí as condições objectivas e os
factores subjectivos, o conteúdo fundamental da vida de toda a população que é
o trabalho criador na construção da nova sociedade, o trabalho educativo do
Partido e do Estado, não só alargam às mais amplas massas os princípios da
moral proletária e comunista como determinam o enriquecimento do seu conteúdo e
a acentuação progressiva do seu carácter humanista.
O carácter humanista da moral proletária deriva
fundamentalmente de que os interesses e os objectivos do proletariado coincidem
com os do futuro da humanidade no seu conjunto, de que cabe ao proletariado a
missão histórica de pôr fim à milenária divisão da humanidade em classes
antagónicas, em exploradores e explorados, e de criar a sociedade sem classes.
Com o comunismo, a moral do proletariado, no seu desenvolvimento, conservando
embora as suas raízes de origem, deixará de ser uma moral de classe, para se
tornar a moral de todos os homens fraternalmente unidos por objectivos comuns,
a «moral verdadeiramente humana», de que falava Engels.
O carácter humanista dos ideais do marxismo-leninismo,
da moral proletária e comunista, revela-se e confirma-se na própria vida, na
realização dos objectivos de luta do proletariado e da sua vanguarda
revolucionária, na realidade exaltante da sociedade socialista e comunista em
construção.
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