- Porque nem todos leram com a
atenção devida -
Manifesto do Partido Comunista
Karl Marx e Friederich Engels
7ª página
Mas com o desenvolvimento da
indústria o proletariado não apenas se multiplica; é comprimido em massas
maiores, a sua força cresce, e ele sente-a mais. Os interesses, as situações de
vida no interior do proletariado tornam-se cada vez mais semelhantes, na medida
em que a maquinaria vai obliterando cada vez mais as diferenças do trabalho e
quase por toda a parte faz descer o salário a um mesmo nível baixo. A
concorrência crescente dos burgueses entre si e as crises comerciais que daqui
decorrem tornam o salário dos operários cada vez mais oscilante; o melhoramento
incessante da maquinaria, que cada vez se desenvolve mais depressa, torna toda
a sua posição na vida cada vez mais insegura; as colisões entre o operário
singular e o burguês singular tomam cada vez mais o carácter de colisões de
duas classes. Os operários começam por formar coalizões (27*) contra os burgueses;
juntam-se para a manutenção do seu salário. Fundam eles mesmos associações
duradouras para se premunirem para as insurreições ocasionais. Aqui e além a
luta irrompe em motins.
De tempos a tempos os operários
vencem, mas só transitoriamente. O resultado propriamente dito das suas lutas
não é o êxito imediato, mas a união dos operários que cada vez mais se amplia.
Ela é promovida pelos meios crescentes de comunicação, criados pela grande
indústria, que põem os operários das diversas localidades em contacto uns com
os outros. Basta, porém, este contacto para centralizar as muitas lutas locais,
por toda a parte com o mesmo carácter, numa luta nacional, numa luta de
classes. Mas toda a luta de classes é uma luta política. E a união, para a qual
os burgueses da Idade Média, com os seus caminhos vicinais, precisavam de
séculos, conseguem-na os proletários modernos com os caminhos-de-ferro em
poucos anos.
Esta organização dos proletários em
classe, e deste modo em partido político, é rompida de novo a cada momento pela
concorrência entre os próprios operários. Mas renasce sempre, mais forte, mais
sólida, mais poderosa. Força o reconhecimento de interesses isolados dos
operários em forma de lei, na medida em que tira proveito das cisões da burguesia
entre si. Assim [aconteceu] em Inglaterra com a lei das dez horas (41).
De um modo geral, as colisões da
velha sociedade promovem, de muitas maneiras, o curso de desenvolvimento do
proletariado. A burguesia acha-se em luta permanente: de começo contra a
aristocracia; mais tarde, contra os sectores da própria burguesia cujos
interesses entram em contradição com o progresso da indústria; sempre, contra a
burguesia de todos os países estrangeiros. Em todas estas lutas vê-se obrigada
a apelar para o proletariado, a recorrer à sua ajuda, e deste modo a arrastá-lo
para o movimento político. Ela própria leva, portanto, ao proletariado os seus
elementos (28*)de formação próprios,
ou seja, armas contra ela própria.
Além disto, como vimos, sectores
inteiros da classe dominante, pelo progresso da indústria, são lançados no
proletariado, ou pelo menos vêem-se ameaçadas nas suas condições de vida.
Também estes levam ao proletariado uma massa de elementos de formação (29*).
Por fim, em tempos em que a luta de
classes se aproxima da decisão, o processo de dissolução no seio da classe
dominante, no seio da velha sociedade toda, assume um carácter tão vivo, tão
veemente, que uma pequena parte da classe dominante se desliga desta e se junta
à classe revolucionária, à classe que traz nas mãos o futuro. Assim, tal como
anteriormente uma parte da nobreza se passou para a burguesia, também agora uma
parte da burguesia se passa para o proletariado, e nomeadamente uma parte dos
ideólogos burgueses que conseguiram elevar-se a um entendimento teórico do
movimento histórico todo.
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