- Porque nem todos leram com a
atenção devida -
Manifesto do Partido Comunista
Karl Marx e Friederich Engels
6ª página
Na mesma medida em que a burguesia,
i. é, o capital se desenvolve, nessa mesma medida desenvolve-se o proletariado,
a classe dos operários modernos, os quais só vivem enquanto encontram trabalho
e só encontram trabalho enquanto o seu trabalho aumenta o capital. Estes
operários, que têm de se vender à peça, são uma mercadoria como qualquer outro
artigo de comércio, e estão, por isso, igualmente expostos a todas as
vicissitudes da concorrência, a todas as oscilações do mercado.
O trabalho dos proletários perdeu,
com a extensão da maquinaria e a divisão do trabalho, todo o carácter autónomo
e, portanto, todos os atractivos para os operários (19*). Ele torna-se um mero
acessório da máquina ao qual se exige apenas o manejo mais simples, mais
monótono, mais fácil de aprender. Os custos que o operário ocasiona reduzem-se
por isso quase só aos meios de vida de que carece para o seu sustento e para a
reprodução da sua raça. O preço de uma mercadoria, portanto também do trabalho
(40) é, porém, igual aos seus custos de produção.
Na mesma medida em que cresce a repugnância [causada] pelo trabalho decresce
portanto o salário. Mais ainda: na mesma medida em que aumentam a maquinaria e
a divisão do trabalho, na mesma medida sobe também a massa (20*)do trabalho, seja pelo
acréscimo das horas de trabalho seja pelo acréscimo do trabalho exigido num
tempo dado, pelo funcionamento acelerado das máquinas, etc.
A indústria moderna transformou a
pequena oficina do mestre patriarcal na grande fábrica do capitalista
industrial. Massas de operários, comprimidos na fábrica, são organizadas como
soldados. São colocadas, como soldados rasos da indústria, sob a vigilância de
uma hierarquia completa de oficiais subalternos e oficiais. Não são apenas
servos [Knechte] da classe burguesa, do Estado burguês; dia a dia, hora
a hora, são feitos servos da máquina, do vigilante, e sobretudo dos (21*)próprios burgueses
fabricantes singulares. Este despotismo é tanto mais mesquinho, mais odioso,
mais exasperante, quanto mais abertamente proclama ser o provento o seu (22*)objectivo.
Quanto menos habilidade e
exteriorização de força o trabalho manual exige, i. é, quanto mais a indústria
moderna se desenvolve, tanto mais o trabalho dos homens é desalojado pelo das
mulheres (23*). Diferenças de sexo e
de idade já não têm qualquer validade social para a classe operária. Há apenas
instrumentos de trabalho que, segundo a idade e o sexo, têm custos diversos.
Se a exploração do operário pelo
fabricante termina na medida em que recebe o seu salário pago de contado, logo
lhe caem em cima as outras partes da burguesia: o senhorio, o merceeiro, o
penhorista [Pfandleiher] (24*), etc.
Os pequenos estados médios [Mittelstände]
até aqui, os pequenos industriais, comerciantes e rentiers (25*), os artesãos e
camponeses, todas estas classes caem no proletariado, em parte porque o seu
pequeno capital não chega para o empreendimento da grande indústria e sucumbe à
concorrência dos capitalistas maiores, em parte porque a sua habilidade é
desvalorizada por novos modos de produção. Assim, o proletariado recruta-se de
todas as classes da população.
O proletariado passa por diversos
estádios de desenvolvimento. A sua luta contra a burguesia começa com a sua
existência.
No começo são os operários
singulares que lutam, depois os operários de uma fábrica, depois os operários
de um ramo de trabalho numa localidade contra o burguês singular que os explora
directamente. Dirigem os seus ataques não só contra as relações de produção
burguesas, dirigem-nos contra os próprios instrumentos de produção; aniquilam
as mercadorias estrangeiras concorrentes, destroçam as máquinas, deitam fogo às
fábricas, procuram recuperar (26*)a posição desaparecida
do operário medieval. Neste estádio os operários formam uma massa dispersa por
todo o país e dividida pela concorrência. A coesão maciça dos operários não é
ainda a consequência da sua própria união, mas a consequência da união da
burguesia, a qual, para atingir os seus objectivos políticos próprios, tem de
pôr em movimento o proletariado todo, e por enquanto ainda o pode. Neste
estádio os proletários combatem, pois, não os seus inimigos, mas os inimigos
dos seus inimigos, os restos da monarquia absoluta, os proprietários
fundiários, os burgueses não industriais, os pequenos burgueses. Todo o
movimento histórico está, assim, concentrado nas mãos da burguesia; cada
vitória assim alcançada é uma vitória da burguesia.
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