- Porque nem todos leram com a
atenção devida -
Manifesto do Partido Comunista
Karl Marx e Friederich Engels
4ª página
A burguesia pôs a descoberto como a
brutal exteriorização de força, que a reacção tanto admira na Idade Média,
tinha na mais indolente mandriice o seu complemento adequado. Foi ela quem
primeiro demonstrou o que a actividade dos homens pode conseguir. Realizou
maravilhas completamente diferentes das pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos
e das catedrais góticas, levou a cabo expedições completamente diferentes das
antigas migrações de povos e das cruzadas (39).
A burguesia não pode existir sem
revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações
de produção, portanto as relações sociais todas. A conservação inalterada do
antigo modo de produção era, pelo contrário, a condição primeira de existência de
todas as anteriores classes industriais. O permanente revolucionamento da
produção, o ininterrupto abalo de todas as condições sociais, a incerteza e o
movimento eternos distinguem a época da burguesia de todas as outras. Todas as
relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e
intuições, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem
ossificar-se. Tudo o que era dos estados [ou ordens sociais — ständisch]
e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são
por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas
ligações recíprocas.
A necessidade de um escoamento
sempre mais extenso para os seus produtos persegue a burguesia por todo o globo
terrestre. Tem de se implantar em toda a parte, instalar-se em toda a parte,
estabelecer contactos em toda a parte.
A burguesia, pela sua (13*)exploração do mercado
mundial, configurou de um modo cosmopolita a produção e o consumo de todos os
países. Para grande pesar dos reaccionários, tirou à indústria o solo nacional
onde firmava os pés. As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas, e
são ainda diariamente aniquiladas. São desalojadas por novas indústrias cuja
introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, por
indústrias que já não laboram matérias-primas nativas, mas matérias-primas
oriundas das zonas mais afastadas, e cujos fabricos são consumidos não só no
próprio país como simultaneamente em todas as partes do mundo. Para o lugar das
velhas necessidades, satisfeitas por artigos do país, entram [necessidades]
novas que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais
longínquos. Para o lugar da velha auto-suficiência e do velho isolamento locais
e nacionais, entram um intercâmbio omnilateral, uma dependência das nações umas
das outras. E tal como na produção material, assim também na produção
espiritual. Os artigos espirituais das nações singulares tornam-se bem comum. A
unilateralidade e estreiteza nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e
das muitas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial.
A burguesia, pelo rápido
melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações
infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras,
para a civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia
pesada com que deita por terra todas as muralhas da China, com que força à
capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro. Compele todas as
nações a apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem
arruinar-se; compele-as a introduzirem no seu seio a chamada civilização, i. é,
a tornarem-se burguesas. Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria
imagem.
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