Porque nem todos leram com a
atenção devida -
Manifesto do Partido Comunista
Karl Marx e Friederich Engels
5ª página
A burguesia submeteu o campo à
dominação da cidade. Criou cidades enormes, aumentou num grau elevado o número
da população urbana face à rural, e deste modo arrancou uma parte significativa
da população à idiotia [Idiotismus] da vida rural. Assim como tornou
dependente o campo da cidade, [tornou dependentes] os países bárbaros e
semibárbaros dos civilizados, os povos agrícolas dos povos burgueses, o Oriente
do Ocidente.
A burguesia suprime cada vez mais a
dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou a
população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em
poucas mãos. A consequência necessária disto foi a centralização política.
Províncias independentes, quase somente aliadas, com interesses, leis, governos
e direitos alfandegários diversos, foram comprimidas numa nação, num
governo, numa lei, num interesse nacional de classe, numa
linha aduaneira.
A burguesia, na sua dominação de
classe de um escasso século, criou forças de produção mais massivas e mais
colossais do que todas as gerações passadas juntas. Subjugação das forças da
Natureza, maquinaria, aplicação da química à indústria e à lavoura, navegação a
vapor, caminhos-de-ferro, telégrafos eléctricos, arroteamento de continentes
inteiros, navegabilidade dos rios, populações inteiras feitas saltar do chão —
que século anterior teve ao menos um pressentimento de que estas forças de
produção estavam adormecidas no seio do trabalho social?
Vimos assim (14*)que: os meios de
produção e de intercâmbio sobre cuja base se formou a burguesia foram gerados
na sociedade feudal. Num certo estádio do desenvolvimento destes meios de
produção e de intercâmbio, as relações em que a sociedade feudal produzia e
trocava, a organização feudal da agricultura e da manufactura — numa palavra,
as relações de propriedade feudais — deixaram de corresponder às forças
produtivas já desenvolvidas. Tolhiam a produção, em vez de a fomentarem.
Transformaram-se em outros tantos grilhões. Tinham de ser rompidas e foram
rompidas.
Para o seu lugar entrou a livre
concorrência, com a constituição social e política a ela adequada, com a
dominação económica e política da classe burguesa.
Um movimento semelhante processa-se
diante dos nossos olhos. As relações burguesas de produção e de intercâmbio, as
relações de propriedade burguesas, a sociedade burguesa moderna que desencadeou
meios tão poderosos de produção e de intercâmbio, assemelha-se ao feiticeiro
que já não consegue dominar as forças subterrâneas que invocara. De há decénios
para cá, a história da indústria e do comércio é apenas a história da revolta
das modernas forças produtivas contra as modernas relações de produção, contra
as relações de propriedade que são as condições de vida da burguesia e da sua
dominação. Basta mencionar as crises comerciais que, na sua recorrência
periódica, põem em questão, cada vez mais ameaçadoramente, a existência de toda
a sociedade burguesa. Nas crises comerciais é regularmente aniquilada uma
grande parte não só dos produtos fabricados como (15*)das forças produtivas
já criadas. Nas crises irrompe uma epidemia social que teria parecido um
contra-senso a todas as épocas anteriores — a epidemia da sobreprodução. A sociedade
vê-se de repente retransportada a um estado de momentânea barbárie; parece-lhe
que uma fome, uma guerra de aniquilação (16*)universal lhe cortaram
todos os meios de subsistência; a indústria, o comércio, parecem aniquilados. E
porquê? Porque ela possui demasiada civilização, demasiados meios de vida,
demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas que estão à sua
disposição já não servem para promoção (17*)das relações de
propriedade burguesas; pelo contrário, tornaram-se demasiado poderosas para
estas relações, e são por elas tolhidas; e logo que triunfam deste tolhimento
lançam na desordem toda a sociedade burguesa, põem em perigo a existência da
propriedade burguesa. As relações burguesas tornaram-se demasiado estreitas
para conterem a riqueza por elas gerada. — E como triunfa a burguesia das
crises? Por um lado, pela aniquilação forçada de uma massa de forças
produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração
mais profunda de (18*)antigos mercados. De
que modo, então? Preparando crises mais omnilaterais e mais poderosas, e
diminuindo os meios de prevenir as crises.
As armas com que a burguesia deitou
por terra o feudalismo viram-se agora contra a própria burguesia.
Mas a burguesia não forjou apenas as
armas que lhe trazem a morte; também gerou os homens que manejarão essas armas
— os operários modernos, os proletários.
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