100 anos de militância a caminho do futuro

1921-2021

terça-feira, 1 de setembro de 2020

ALBERTO VILLAVERDE CABRAL (1942 – 1996)


 ALBERTO VILLAVERDE CABRAL (1942 – 1996)

Jornalista antifascista, dedicado militante da luta contra a ditadura, bateu-se desde muito jovem pela instauração da democracia em Portugal. Destacou-se como analista de política internacional, em quem se reconhecia uma incisiva e lúcida perspicácia política.
Contribuiu para a dignificação da profissão de jornalista, evidenciando-se pela qualidade dos seus artigos, sobretudo das suas crónicas sobre questões internacionais, e por uma escrita clara e rigorosa. Morreu muito novo, mas teve grande influência na formação de muitos jovens jornalistas, que então iniciavam a sua vida profissional. Era um homem afável, de extrema simplicidade e uma atraente bonomia.

1. Nasceu no dia 21 de Junho de 1942, em Ponta Delgada (Açores), onde, por razões profissionais do pai (um engenheiro agrónomo casado com uma senhora espanhola), a família viveu entre 1940 e 1942. Cresceu em Santo Amaro de Oeiras, na Avenida Carlos Silva, nº 2, e aí fez os estudos primários e secundários [1].

Aos dezasseis anos, quando ainda era estudante do liceu de Oeiras, iniciou a sua actividade política na luta contra o fascismo, participando, com o seu irmão Manuel Villaverde Cabral (mais velho dois anos), na campanha para as eleições presidenciais de 1958, primeiro a favor de Arlindo Vicente e, após a desistência deste, a favor de Humberto Delgado. Datam dessa época os seus primeiros contactos com o Partido Comunista Português. Na crise académica de 1962, participou no movimento estudantil dos liceus. Casou-se com Marília Pereira Morais, em 5 de Outubro de 1963, e durante algum tempo viveu de traduções.

Em 1967, após completar o serviço militar, já casado e com dois filhos, foi preso pela PIDE, ficando cerca de dois meses em Caxias, depois de ter sido submetido a tortura do sono.

Entre 1969 e 1974 participou activamente no Movimento CDE, tendo sido membro da sua Comissão Executiva. Antes do 25 de Abril, dinamizou o movimento sindical dos jornalistas e fez parte de comissões que pugnavam pela liberdade de expressão.

2. Vida profissional

A vida profissional de Alberto Villaverde tem início em 1967, na agência noticiosa americana Associated Press, onde ocupou o cargo de responsável pela secção internacional. Logo de seguida, em 1968, entra no Diário de Lisboa, jornal em que se manteve até 1974, com grande actividade de artigos e crónicas, na quase totalidade truncadas pela implacável censura fascista.

Em Dezembro de 1971 publicou “Chile a Etapa Necessária”, escrito juntamente com José Garibaldi Barros Queirós, publicado na editora Estampa e que iria ser imediatamente apreendido pela PIDE [Um livro sobre a situação no Chile e o programa de governo de Allende.

Em Março de 1973, publicou “Comentários ao Dia-a-Dia Internacional”, na Prelo Editora [conjunto de textos sobre a actualidade política em vários países, com destaque para a denúncia dos bombardeamentos americanos ]a alvos civis na guerra do Vietname, e referindo as vitórias do povo vietnamita].

Em 1973 é um dos participantes (com José Tengarrinha, Francisco Pereira de Moura, Helena Neves, Sérgio Ribeiro, entre outros) em “Mesa Redonda” [Gravação em disco sobre a “Conferência da Paz, Segurança e Cooperação na Europa”, com a defesa do desanuviamento militar e a denúncia do regime de Marcelo Caetano, do isolamento internacional de Portugal e do atraso económico e social do país].

Em 1973 integrou a Comissão Nacional do 3.º Congresso da Oposição Democrática e participou no Congresso com a tese “Portugal e a NATO”, uma intervenção escrita em que abordava a posição do regime no plano internacional, criticava a presença de Portugal na NATO e denunciava o apoio desta aliança à guerra colonial, mediante fornecimento de armas e aviões.

3. Após o 25 de Abril

Logo após o 25 de Abril, durante o período revolucionário, foi director de Informação na RTP. Foi um dos fundadores e o primeiro director da Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP), chegando a ser presidente do seu conselho de administração.

Após o 25 de Novembro, faz parte do núcleo fundador de “O Diário”, jornal em que iria trabalhar como editor da secção internacional.

Ao longo da sua vida, foi colaborador de muitos jornais e revistas, com destaque para a Seara Nova e escreveu, entre outros, em O Tempo e o Modo, Notícias da Amadora, A Bola, Avante e Militante – sempre sobre questões de política internacional. Foi comentador em diversos debates televisivos sobre temas internacionais. Foi colaborador na TSF. Viajou em trabalho pelo mundo inteiro.
Foi um dos membros fundadores da Organização dos Jornalistas Comunistas.

Teve três filhos: Teresa Villaverde, Manuel Villaverde e Joana Villaverde [2].

Morreu em Lisboa, no dia 19 de Agosto de 1996, aos 54 anos, vítima de doença.

Em Lisboa, foi atribuído o seu nome a uma rua da freguesia de São Francisco Xavier, no Restelo.

.Notas

[1] Alberto Villaverde Cabral era bilingue: o castelhano era uma língua tão naturalmente falada em sua casa, como o português. O pai era um homem especialmente culto, inteligente, persuasivo, um técnico muito competente. No entanto, era a mãe, uma senhora espanhola com grande abertura de espírito, muito mais nova do que o pai (tinha 19 anos quando se casou), quem tinha a influência predominante sobre os dois filhos.

[2] Alberto Villaverde Cabral é uma referência de grande importância para os três filhos.

Biografia da autoria de Helena Pato

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