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1921-2021

domingo, 14 de março de 2021

Olhares sobre o centenário do PCP de José Neves

 

14. 1976 Comício com Álvaro Cunhal em Santa Iria da Azóia Fotografias de Jerónimo de Sousa Secretário Geral do PCP Cedidas á Revista Visão pelo Gabinete Imprensa PCP

 Olhares sobre o centenário do PCP

O PCP assinala, durante este mês de março, cem anos de existência. A este pretexto, o prof. da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, investigador - e vice-presidente - do seu Instituto de História Contemporânea, José Neves, organizou o volume Partido Comunista Português (1921/2021) - Uma Antologia, editada pela Tinta da China, que percorre períodos essenciais do partido. Entre outros, o volume contra com textos de Álvaro Cunhal, José Pacheco Pereira, Fernando Rosas, Francisco Loução, João Arsénio Nunes, António Pedro Pita, Ana Drago, Miguel Cardina e Ana Margarida de Carvalho. O JL falou com o historiador, que foi Camões visiting prof. no King’s College, de Londres, e dirige a revista Práticas da História – a Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past

JL: Como nasceu este livro?

José Neves: Há pouco mais de 15 anos terminei a minha tese de doutoramento, intitulada “Comunismo e Nacionalismo em Portugal”, que veio a ser publicada pela Tinta-da-China, à semelhança desta antologia de estudos sobre o PCP. De então para cá, à boleia das minhas obrigações docentes na FCSH da Un. Nova passei a interessar-me cada vez mais pela história, não apenas enquanto passado mas também como disciplina que tem a sua própria história… A ideia de organizar esta antologia é, um pouco, o fruto destas circunstâncias.

Qual é o seu principal objetivo?

São dois. Por um lado, dar a ler investigações, mais antigas ou mais recentes, que ajudam a conhecermos melhor a história do PCP, considerando assuntos diversos como as posições do Partido face à II Guerra Mundial, as greves operárias dos anos 40, a relação com Humberto Delgado no quadro das presidenciais, a dinâmica histórica dos anos de Abril ou, mais recentemente, a questão do poder local. Por outro lado, a antologia tem por objetivo contextualizar as investigações sobre o PCP à luz do momento em que foram elaboradas e das perspetivas dos respetivos investigadores, abrindo assim uma janela de onde observarmos a própria história da história e memória do PCP…

Qual foi a maior preocupação na seleção dos textos?

Foi conciliar os dois objetivos acima enunciados, cobrindo os vários períodos e temas de uma história centenária e reunindo diferentes (quando não contraditórios) pontos de vista historiográficos sobre essa história. E quem diz historiográficos diz também antropológicos, sociológicos ou da ciência política.

Não deve ter sido fácil encontrar um equilíbrio entre épocas, autores, perspetivas, etc…

O equilíbrio entre épocas é impossível de alcançar. Os estudos sobre o PCP debruçam-se, fundamentalmente, sobre os seus primeiros 55 anos de vida, isto é, até ao fim do PREC. De então para cá, a investigação é escassa. Em termos de perspetivas, e no sentido disciplinar, acabei por optar por dar preferência a um olhar mais devedor da história política. Deixei de fora os contributos da história cultural. (Nem sequer incluí um texto do próprio organizador da antologia…). E praticamente excluí a história social do comunismo português, mas, neste caso, foi menos custoso – é que esse olhar social é praticamente inexistente…

O PCP teve várias fases na sua longa história? Em síntese, quais foram as mais importantes?

Talvez possamos falar em quatro fases. Os anos 20, entre os efeitos da Revolução de Outubro e a queda da república e a crise do capitalismo, em 1929. Os anos 30, da tentativa de reorganização do partido (em que se destaca a figura de Bento Gonçalves) e o final da guerra civil espanhola, que é também um período de intensificação da repressão promovida pelo Estado Novo. Depois, temos o grande e principal período, o da reorganização partidária, de 1940/41 ao 25 de Abril, em que se afirmam os dirigentes do PCP cujos nomes hoje mais guardamos na memória, desde logo Álvaro Cunhal. E, finalmente, a seguir aos anos do PREC, temos a história (que está em grande medida por escrever) do PCP no quadro do atual sistema democrático. Mas, é claro, os anos do PREC são, em si mesmo, um período com características próprias…

Qual é a essência do partido? O que nunca mudou ao longo do tempo?

Desde pelo menos meados dos anos 20 que começa a afirmar-se, no interior do PCP, uma cultura política fortemente antifascista. A importância dessa cultura política persiste já em democracia. Um outro traço que se tornará persistente é a valorização das lutas concretas, conduzidas no terreno laboral, sobretudo. Finalmente, a referência ao leninismo, enquanto teoria da ação política, contra uma leitura mais economicista.

De que forma este olhar sobre a história do partido nos permite perceber a pertinência da sua existência e da sua luta nos dias de hoje?

Alguns textos talvez ajudem a responder a essa questão. A socióloga Ana Drago, por exemplo, refere o papel do PCP enquanto fator de uma cidadania de oposição, a um tempo veiculando uma crítica à democracia liberal e enquadrando essa crítica institucionalmente. Mas, em última instância, essa é uma pergunta cuja resposta dependerá sempre do próprio posicionamento político de quem lhe responde…

 

 

1 comentário:

  1. O PCP merece toda a gratidão .

    Os meus parabéns pelo centenário.

    Te abraço

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