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1921-2021

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

ADELINO PEREIRA DA SILVA (n. 1939) - UM HERÓI DO PCP!

 

ADELINO PEREIRA DA SILVA (n. 1939) - UM HERÓI DO PCP!

Resistente anti-fascista, e comunista, homem de grande coragem, sempre se destacou pelo seu carácter e pelos valores que o acompanham desde jovem.

Operário metalúrgico, entra para o Partido Comunista Português em 1956, e para a clandestinidade como funcionário deste Partido, em 1959. Após a sua funcionalização passou a colaborador do Secretariado do Comité Central.

Em 1962 fez parte do Comité Local de Lisboa, sendo responsável pelas organizações das zonas Oriental e Ocidental.

Foi preso em Janeiro de 1963 e acusado de ser membro e funcionário do PCP, quando ocorreu o desmantelamento do referido comité, por denúncia de um traidor. (1) Adelino foi então espancado e torturado pela PIDE, na Rua António Maria Cardoso, mas recusou-se a falar e a entregar camaradas e a organização. Esteve encarcerado na cadeia do Aljube mais de um ano. Apenas esteve no Forte de Caxias cerca de um mês, para ser assistido no Hospital S. João de Deus, na sequência dos interrogatórios da PIDE.
(Submetido a violentos espancamentos e à tortura do sono durante 15 dias, sangrava constantemente pela boca). Depois voltou para os chamados curros do Aljube.

Julgado em Tribunal Plenário foi condenado a 4 anos de prisão e às famigeradas "medidas de segurança" (de 6 meses a 3 anos, prorrogáveis), que tiveram início em 1967. Foram 7 longos anos de prisão, no Aljube, em Caxias e em Peniche, até à sua libertação em 1969.

Adelino Pereira da Silva nasceu em Alvalade (Santiago de Cacém), em Fevereiro de 1939, filho de António João da Silva e Corália Maria Pereira.

Casa-se com Alice Capela em 6 de Abril de 1966 – tinha ele 27 anos e ela 25 – e nem sequer se viram no dia do casamento. No registo do casamento figura como “residente em cadeia do Forte de Peniche”. Adelino Pereira da Silva conhecera Alice quando ela tinha apenas 18 anos e (segundo conta) o casamento teve a influência de António Dias Lourenço. (2)

 Adelino não o sabia na altura, mas a primeira tarefa que lhe foi atribuída, quando entrou para o Partido Comunista Português, em 1959, estava intimamente ligada com o que seria uma das maiores afrontas ao Estado Novo e ao seu governante máximo, António de Oliveira Salazar — a fuga, a 3 de Janeiro de 1960, de Álvaro Cunhal e de nove outros presos da Cadeia do Forte de Peniche.

Só depois de se casarem (oficialmente) puderam começar a corresponder-se. As cartas, entre a cadeia de Caxias, onde ela se encontrava presa e o Forte de Peniche, onde ele estava a cumprir pena, eram, então, quase exclusivamente sobre o filho, Alfredo, que foi andando de casa em casa, acolhido por familiares e amigos. Alice foi libertada primeiro, depois o Adelino. Só se reencontraram os três quando o filho tinha já 10 anos. Mas apenas depois do 25 de Abril puderam ter uma vida normal.

Viveram uma história de amor nessa casa em que trabalhavam clandestinamente para o PCP, e, quando desconfiaram que estavam prestes a ser descobertos, saíram precipitadamente. Levaram as roupas e os papéis importantes, mas, já na casa nova, APS deu conta que lhe faltavam documentos. Alice implorou-lhe que não voltasse atrás. "Até fechou a porta à chave, e dizia "não vás, que eu tenho um pressentimento"", conta APS. "Quando lá cheguei, já lá estava a PIDE."

No filme "48" de Susana Sousa Dias, durante a entrevista de Adelino Pereira da Silva, além das suas fotografias de cadastro aparecem também as fotografias de cadastro da mulher, da sua mãe e do seu pai. [Os pais da Alice Capela também estiveram presos na mesma altura, assim como o filho, com 3 anos].

Após o 25 de Abril, Adelino Pereira da Silva realiza tarefas ligadas aos organismos executivos do Comité Central. Integrou o Executivo da Festa do «Avante!» durante cerca de 30 anos. Foi eleito para o CC do PCP no VIII Congresso, realizado em 1976, tendo sido sucessivamente reeleito até ao XVIII Congresso em 2008 (saindo do CC a seu pedido, por razões de saúde). Esteve 32 anos naquele órgão de Direcção do Partido.

 

(1) O traidor que denunciou Adelino e outros membros do PCP estava ligado ao sector estudantil, (Pedro Manuel). A PIDE tê-lo-á enviado para uma das colónias.

(2) Dias Lourenço tinha-lhe pedido que montasse uma casa clandestina, e explicou-lhe que vinha morar com ele uma mulher. Disse-lhe: "Vocês vão montar uma casa, não é para serem companheiros, mas se vocês se entenderem, como são jovens...". Quando chegou à rua combinada, Adelino Pereira da Silva viu-a ao longe com Dias Lourenço. E ela, ao vê-lo, pensou “que não podia ser aquele rapaz, não devia ser, seria demasiada sorte” - achou-o bonito.

Helena Pato

 

1 comentário:

  1. Que história impressionante.
    Obrigada por partilhar.
    Sempre pronta a alimentar a minha cultura.
    Um beijinho.
    Megy Maia☔💮☔

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